marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
316 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Edson – Num momento mais além, quando o Marighella se
aproxima da luta armada, você o conhecia, como você o via naqueles
dias em que ele queria sair do partido?
Jacob – Depois de 1964?


Edson – É.
Jacob – No meu livro, de certo modo, já exponho o essencial do
que tinha que ser dito. Quando se deu o golpe eu não estava no Rio, eu
estava em Goiânia. A primeira reação que ouvi dos dirigentes lá no Rio
de Janeiro, naquela época a direção nacional funcionava praticamente
no Rio, Prestes tinha residência em São Paulo, mas com frequência ele
estava no Rio de Janeiro. Apesar do Rio já não ser capital, mas ainda a
direção nacional funcionava lá. O que eu sei é que Marighella tomou
uma posição de deslanche radical contra a ditadura, ele foi contra
capitulações, conciliações e coisas dessa ordem. Antes do golpe ele já
tinha contato com sargentos, marinheiros, com o pessoal do Brizola,
possivelmente com oficiais do Exército, setores oficiais do partido e
depois do golpe passou a defender essas posições. Logo depois do golpe,
em virtude de alguns dirigentes da Comissão Executiva não estarem no
Rio, e outros ficarem impedidos de circular, como foi o caso do Prestes,
nas primeiras reuniões da Executiva criou-se uma maioria esquerdista,
que era o Marighella, o Mário Alves, o Jover Telles – que depois seria
o que a gente sabe, um traidor – e vacilantemente o Bonfim, Orlando
Bonfim, que é um dos desaparecidos hoje.


Edson – E o Apolônio?
Jacob – É depois, nesse primeiro momento, o golpe foi em fins
de março, em fins de abril, eu digo isso no meu livro, circulou uma
nota da Executiva que tomava posições de esquerda. Logo depois a
Comissão Executiva se preencheu, se recompôs e essa maioria de es-
querda sumiu. O Marighella foi preso naquele episódio do cinema lá
na Tijuca, foi baleado, ficou um tempo preso e depois saiu.

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