marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
34 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

escolha de Marighella pelo nome de guerra Menezes, na militância,
em homenagem a esse professor.
Carlos Marighella era um jovem que gostava de música, de futebol,
de carnaval e de estudar. A militância política revolucionária não é algo
que surge da simples relação do indivíduo com a sociedade. A tendência
geral do indivíduo com o meio é acomodar-se, para tanto não carece o
Estado em incentivar o desenvolvimento de meios coercitivos, através
de suas instituições. A aproximação de Marighella com a política é algo
que vai se construindo ao longo de sua vida, e uma das características
essenciais de sua trajetória política foi a capacidade de intercalar uma
intensa atuação com a ternura que Che Guevara julgava imprescindível.
O jovem estudante, devorador de dicionários, vai aos poucos
construindo suas convicções políticas. Na rua onde morava, Ma-
righella não se contentava em concentrar seus esforços apenas para
seu proveito:


Ele pegava as crianças que não frequentavam a escola e os adultos que não
sabiam ler e levava todo mundo lá pra casa para ensinar. O forte dele era
a Matemática. Às vezes, as crianças estavam ruins na escola, a mãe pedia e
ele dava aula, sem cobrar nada.^29
Não que Marighella fosse um gênio, mas sua inteligência, aliada
a determinação fizeram com que sempre se destacasse nos estudos.
No Ginásio da Bahia, mesmo que não fosse às aulas, era procurado
pelos colegas para explicar os pontos da matéria.^30 O estudante já
começara a aprontar das suas, a rebeldia aflorava no futuro revolu-
cionário e alguns indícios surgiam no Ginásio da Bahia. Marighella
não era apenas o estudante da prova em versos. Tereza atenta para
dois protestos de Marighella no Ginásio: um em que ele raspou a
cabeça. A hoje professora Tereza explica: “O padre raspa a cabeça e
deixa aquela coroa, ele fez o contrário, raspou a cabeça toda em volta


(^29) Cf. depoimento de Tereza Marighella.
(^30) Idem.

Free download pdf