marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 35

e deixou só aquela coroinha de cabelo em cima”.^31 O outro protesto
é mais cômico: não se usava sandália na escola, ele cortou o sapato,
fez uma espécie de sandália para ir a escola. A mãe o repreendeu pelo
ato, Marighella respondeu prontamente: “Mãe! Jesus Cristo andou
de sandália, por que eu não posso andar?”.^32
“Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são
infelizes cada uma a sua maneira”.^33 A família Marighella era feliz a
sua maneira. Era uma família numerosa, com oito filhos, no mínimo
espera-se uma casa movimentada. Sem dizer que nos fundos funcio-
nava a oficina de Augusto Marighella. A vida da família Marighella
tinha alguns rituais próprios de toda família. Como bom italiano
Augusto fazia questão de ver todos os filhos reunidos à mesa, mis-
turava vinho na água e todos bebiam na hora da refeição, na qual
não faltava a macarronada. As brincadeiras rolavam soltas entre os
irmãos, como a guerra de travesseiros e a correria no quintal, que era
grande. Todo domingo os filhos eram acordados por Maria Rita, o
destino era a missa na igreja católica. Apesar de o pai ter a vida presa
à oficina, era brincalhão. Uma das brincadeiras favoritas era quando
ele chegava em casa, a farra era motivada pela pilhéria dos irmãos, que
o chamavam de papai-buick – um carro estadunidense da General
Motors. Ele enrolava a toalha e simulava uma perseguição à garota-
da.^34 Carlos Marighella participava a seu modo, era um gozador de
primeira, gostava de apelidar os irmãos. Caetano, por exemplo, era
o Sergipano, por ter pescoço enterrado. A irmã Julieta apelidara de
canela de sabiá, porque tinha as pernas finas. Tereza era a professora
sem juízo, ela caçoava de ele ter envolvimento com a política, ele em
resposta lançou esse apelido. Para os irmãos ele era o “Carrinho”, não
tinha apelido especial.


(^31) Idem.
(^32) Cf. depoimento de Tereza Marighella.
(^33) TOLSTÓI, Leon Nikolaievitch. Ana Karênina. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
(^34) Cf. depoimento de Tereza Marighella.

Free download pdf