362 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
Edson – Voltando a essa ação, a diferença de idade de vocês para
os comandantes da ALN era muito grande?
Manuel – Era grande. Porque, por exemplo, o Leonardo estudava
Direito, mas deveria ter uns 30, 30 e poucos anos. E o Pedrinho – o
nome de guerra do Marquito – também deveria ter uns 35 anos, 40
anos. Nós éramos mais novos, e é complicado avaliar a idade dele.
Mas, eu diria eu aparentava perfeitamente.
Então, as coisas eram muito bem preparadas. Você vê esse caso
dessa pedreira. Eu não participei da preparação porque eu estava en-
trando no GTA naquele momento, mas a gente percebe que teve um
levantamento minucioso, que chegou alguma informação através de
alguém, chegou a informação que uma determinada pedreira fabricava
explosivos ilegalmente, guardava em tais lugares. Tudo isso a gente
sabia, tinha um mapa do local dos paióis, eram subterrâneos alguns,
tipo um poço e a gente tinha essa informação toda. Pra preparação
a gente conseguiu saber de todos os canais. Através do mandado
de busca e apreensão, assinado e carimbado por Carlos Marighella.
Provavelmente tenha sido brincadeira de alguém que forneceu esse
documento.
Edson – Era um documento oficial?
Manuel – Documento oficial, do poder judiciário, um mandado
de busca e apreensão. Ele se apresentou na fábrica, a porteira estava
fechada. Não era uma fábrica, era uma pedreira. Ele se apresentou
como tenente da polícia federal, mostrou documento, deu voz de
prisão e nós entramos. Então, você vê que o grau de preparação era
legal. Cada carro com um motorista e um ajudante já tinha uma rota
de fuga traçada. Essa pedreira era distante, era lá na zona Leste, um
distrito qualquer de São Paulo, que margeava a Dutra. Cada carro
sabia como sair de lá e ir até o lugar onde iria depositar a sua carga.
Eu não sabia dos outros, tudo com muita organização. Tudo isso é
preparação.