marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
36 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

A aproximação de Carlos Marighella com a militância política ocor-
reu no decorrer de seu ingresso na Escola Politécnica da Bahia, no curso
de Engenharia. Data desse período a sua aproximação com o Partido
Comunista, fundado no Brasil em 1922. Porém, a opção política de
Marighella foi por ele definida da seguinte maneira: “Abracei a causa
do comunismo quando ainda frequentava os estudos de Engenharia
Civil na velha Escola Politécnica da Bahia”.^35 Prossegue Marighella mais
adiante: “desde criança habituei-me a meditar sobre um problema a
respeito do qual meu pai falava quase diariamente: por que o pobre
trabalha toda a vida e nunca tem nada?”^36 O cidadão Marighella vivia
seu cotidiano, mas isso não o impedia de ater-se às injustiças sociais:


O estudo, o tato intelectual com os problemas da vida, o gosto pelos livros, a
tendência para a observação científica levaram-me na lógica formal ensinada
no ginásio à indagação teórica em torno da filosofia marxista. Buscava uma
interpretação da sociedade brasileira, algo que explicasse as contradições
observadas no ambiente em que vivia – operários, estudantes, homens e
mulheres do povo, sincretismo religioso, preconceitos das elites. E em tudo
isso, presente, inarredável, a imagem das crianças, sofrendo, trabalhando,
pongando em bondes – como eu via diariamente em Salvador, para ganhar
uns míseros tostões vendendo jornais. Como homem do povo, escolhi cedo
o caminho, que só podia ser o da luta pela liberdade.^37
A luta pela liberdade foi um princípio inseparável da trajetória
política de Marighella. Seja no Partido, ainda como estudante, seja nas
prisões por que passou e resistiu, seja como deputado constituinte em
1946, seja na luta armada de resistência à ditadura militar. Essa determi-
nação de luta, ele deixou registrada no poema “Liberdade”,^38 escrito em
São Paulo, em 1939, quando se encontrava detido no presídio especial:


(^35) MARIGHELLA, Carlos. Por que resisti a prisão. São Paulo: Brasiliense, 1994.
(^36) MARIGHELLA, Carlos. Por que resisti a prisão. Op. cit., p.23.
(^37) Idem.
(^38) MARIGHELLA, Carlos. Poemas: Rondó da Liberdade. Op. cit., p. 21.

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