EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 373
inicial extremamente perigosa, porque ele pulou em cima da arma
do Virgílio e tentou resistir a execução dele ali. Quando eu percebi,
eu estava sentado ao lado, quando eu percebi eu pensei: meu deus
do céu tenho que fazer alguma coisa para desmoralizar esse cara. Foi
quando dei essa coronhada pra ele cair na real, pra ele perceber que
estava nas mãos de inimigos, de alguma forma ele tem que entender
isso e rapidamente se subjugar, ficar quieto, entender que estava numa
situação de profunda desvantagem ali. E não dava pra falar alguma
coisa, explicar isso pra ele, o meio que eu encontrei foi a coronhada.
Eu lembrei de uma terapia anestésica, uma pancada, um tapa, às vezes,
na cara e foi o que eu fiz, bati e dei a tal da coronhada. Na hora ele
se consolou. Ele estancou. A gente fez com que ele serenasse, largou
a arma, ele estava segurando a arma na mão.
Edson – Nesse momento estavam você e o Virgílio?
Manuel – Não me lembro o que estava acontecendo lá na frente
não. Mas devia estar o nosso motorista, o motorista do embaixador e
um terceiro elemento, esse estava no meio. Mas mesmo que estivessem
os três na frente, era um cadillac de embaixada, com um banco alto,
bem relaxado, não dava para eles fazerem nada, pelo contrário, tinha
espaço suficiente lá atrás para toda essa movimentação.
Edson – O embaixador poderia ser assassinado ali?
Manuel – É, quando ele percebeu que se tratava de um sequestro,
que nós estávamos querendo romper com a censura da ditadura,
libertar companheiros nossos que estavam presos, com isso cada um
ia falar a experiência de tortura, estariam denunciando a tortura.
Edson – Vocês falaram isso para ele?
Manuel – Falamos com ele ao longo do sequestro. Quando ele teve
essa visão mais completa do que estava acontecendo, pediu desculpas
pra gente, particularmente, pra mim, e explicou porque ele reagiu.