EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 381
do partido, Bangu, Honório – você já deve ter ouvido falar em tudo
isso. Fomos para a Ilha Grande e lá eu conheci o Marighella melhor,
conheci e convivi com ele. Você sabe que cadeia é cama e mesa todo
dia.
Edson – Como que era o comportamento dele?
Noé – Marighella era um homem fora do comum. Ele tinha uma
capacidade de liderança inata, eu não sei como é que isso funciona.
Inicialmente, eu devo definir o seguinte: Marighella era um homem
de partido, um homem forjado pelo Partido Comunista, muito
inteligente, muito lido, muito culto, interessado pela literatura, mas
fundamentalmente política, política brasileira, sobretudo História
do Brasil. Estudava muito e tinha uma capacidade política de di-
rigente, qualidades de um dirigente comunista, que são qualidades
excepcionais, não era fácil ser um dirigente comunista no Brasil ou
em qualquer lugar do mundo, não era fácil não, não era nenhuma
brincadeira. Marighella tinha todas essas condições, além de ter o
que se chama hoje de carisma muito grande. O que acontecia? O
presídio, quando eu fui para a Ilha Grande, eu fui meio arrebenta-
do, passei 6 meses incomunicável. E a primeira coisa que eu vi foi
o Marighella. Se eu não me engano ele era o presidente do coletivo.
Pelo menos ele era um dos homens responsáveis pela vida no presídio,
digo responsável político e nesse caso significa que ele era da fração
comunista, que dirigia não ostensivamente, dirigia o quê? Dirigia 60,
70 presos políticos de todas as camadas sociais do Brasil. Não é mole
você conviver num presídio com gente que fez 1935, cabo, soldado,
sargento, oficiais do Exército, marinheiros, camponeses, trabalhadores
da Great Western, que aderiram em 1935, fizeram greves e que eram
ex-camponeses semianalfabetos, gente dedicada ao partido, queria
a revolução. Tinha de tudo, tinha classe média, tinha intelectuais,
viver e sobretudo, harmonizar essa vida não fácil. Havia uma fração
comunista que cuidava desses problemas. Por que não é fácil? Porque