marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
384 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Heloísa Torres, uma estudiosa da arte marajoara, ele copiava aquilo;
trabalhava como qualquer outro, e era o melhor que tinha nessa área.


Edson – No artesanato?
Noé – Era. Era o que fazia as coisas mais bonitas e mais bem
feitas. No futebol era o melhor jogador que tínhamos lá, sem dúvida
nenhuma, zagueiro com o pé descalço. Era o melhor futeboleiro que
nós tínhamos.


Edson – Daqueles que brigam?
Noé – Ah! Sim. Ele gostava muito de futebol. Nós tínhamos – eu
não gostava de futebol não, jogava vôlei – mas ele não era bom de
vôlei não. Era também o melhor professor que tínhamos. Ensinava
português, mais didático, mais comunicativo, o que sabia fazer apro-
veitar mais era ele, como professor era ele, um pedagogo nato. Era,
enfim, o melhor camarada, o melhor coração, o melhor comunista.


Edson – Você se lembra de alguma conversa com ele?
Noé – Lembro-me de uma que eu tive uma vez, meio séria.
Houve um problema interno, eu acho que era no coletivo. O pes-
soal que estava no exílio e tinha voltado da Europa, Gay da Cunha,
Tourinho, tenente França, Costa Leite, não sei mais quem, não me
lembro, alguns estavam em Buenos Aires e alguns em Montevidéu,
era o pessoal da Brigada Internacional. A Guerra Civil Espanhola
tinha acabado, o Brasil já estava em guerra, então, eles negociaram,
consultaram o governo pra ver se podiam voltar. O que aconteceria
se eles voltassem? Estavam todos condenados, condenados em 1935
pelo Tribunal de Segurança Nacional, foi Trifino Correia, que era
muito amigo do Prestes, que mandou o recado, o governo disse: se
eles voltarem estão em cana. Aí voltaram assim mesmo, foram presos
e foram parar na ilha. Aí era esse pessoal, mais visitas, mais problema
externo, uma série de fatores lá dentro da cadeia. O partido aqui fora

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