marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
386 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

nisso, se havia necessidade de expulsar do coletivo esses camaradas,
só por que divergiam.


Edson – Como ficou a situação depois?
Noé – Aí veio a abertura. A situação política começou a desanu-
viar, veio a anistia, todo mundo saiu. A guerra acabou, veio a anistia,
Getúlio decretou a anistia, Prestes foi libertado, essa discussão, cola-
bora, não colabora, não tinha mais sentido, aqui fora não havia mais
esse problema. Marighella fez isso da cabeça dele, ele achava que tinha
que fazer isso, por que era isso? Na conversa ele me explicou muito:
“Olha o que vai acontecer é que qualquer preso nosso vai ter contato
direto com guarda nessa brincadeira. Aí eu vi, vai dar encrenca, vai
brigar com a o guarda ou não vai brigar, e isso não pode”. Porque toda
a nossa relação, a custo de muita luta, de muito trabalho, a relação
com a casa era através do Coletivo. Nenhum guarda, nenhum diretor
da cadeia, nenhum carcereiro, podia ter relação direta com o preso.
O que eles quisessem tinha que ser através do Coletivo, isso evitava,
eu não digo traição, mas evitava conflitos, promiscuidade. Preso que
conversa com guarda é promíscuo, era muito ruim para nós, nós não
queríamos. Era assim que o Marighella queria: “o Coletivo vai perder
autoridade”. Essa briga pro coletivo ser tratado como governo, isso
foi uma briga, greve de fome, briga, muita briga, muito barulho.


Edson – Marighella presente nessas brigas?
Noé – Participou disso tudo. Ele foi preso em 1939, acho que
em 1940 ele estava na Ilha.


Edson – Você fala 3º, está se referindo ao...
Noé – 3º Regimento de Infantaria da Praia Vermelha, que se
levantou em 1935.
Edson – Agora sobre os momentos de lazer, ele gostava de jogar
futebol, jogava de quê?

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