marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 387

Noé – Ele jogava de zagueiro, beque, descalço. Ele já tinha jogado
futebol na Bahia, antes, no Ginásio, na praia.


Edson – Ele comentou isso?
Noé – Comentou. Era bom zagueiro, ótimo zagueiro. Aliás, era
bom em tudo, ele supera o que a gente possa imaginar, porque ele
era bom em tudo. Ele era um excelente professor, por exemplo, sem
nunca ter sido professor na vida.


Edson – Você teve aula com ele?
Noé – Eu assistia de vez em quando. Eu também era professor.
Eu me lembro que ele ensinava português e matemática. Marighella
aprendeu inglês sozinho lá, lia, lia muito e acabou aprendendo. Não
sei se falava, mas ele aprendeu muito.


Edson – Marighella era uma pessoa muito extrovertida...
Noé – Muito, muito, muito...

Edson – Qual era a brincadeira que ele mais gostava?
Noé – Ele achava graça, ele tinha o senso do pitoresco. Então,
inventavam lá um apelido para alguém e ele começava a pesquisar:
“Que diabo, por que esse apelido”? Sei lá, chamava Caroço, ele queria
saber que diabo que houve ali que deram o apelido de Caroço, e fazia
uma espécie de pesquisa gozada. Ele levava, sabia viver, levava a vida
como deve ser levada. Ria quando era preciso rir, a fisionomia dele
era sempre muito séria, o Marighella tem os traços de um homem
que não ri.


Edson – Fisicamente, como ele era?
Noé – Fisicamente? Alto, mais alto que eu, forte, mulato não era
não, era morenão. Você sabe que eu gosto de contar um episódio que
eu tive com o Marighella. Marighella, no golpe, em 1964, foi baleado

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