marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
388 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

no Rio de Janeiro – essa história você conhece – a polícia daqui, na
época, ainda era uma polícia que não estava comprometida com o
terror, com a repressão brutal Doi-Codi, era o Dops, uma polícia
inteligente. Mandou buscar o Marighella lá no Rio de Janeiro. Ele
veio, mesmo ainda ferido, veio num carro de preso. Ele levou uma
bala aqui, quase entrou pelo coração, impressionante. Ele veio para
cá, eu não estava clandestino, em julho. Foi quando, hein?


Edson – 9 de maio de 64.
Noé – 9 de maio. Eu estou falando então de julho, julho, já
vou te explicar por que eu sei que é julho. Eu estava aqui, um frio
desgraçado e eu chateado. A polícia esteve lá em casa, eu fui depor,
mas me soltaram. Ainda não era repressão que veio depois com os
militares, aquela brutalidade. Resolvi visitar Marighella na prisão.
Telefonei para uma cunhada dele, casada com um proprietário de
uma malharia. Eu fui visitar o Marighella.


Edson – Ele estava hospitalizado?
Noé – Não. Era no Dops, no xadrez. No dia 9 de julho, aniversário
de São Paulo, era feriado – por isso que eu me lembro que é julho –
eu peguei um puta de um pacote de roupa, estava frio, que você não
imagina o frio em São Paulo, pacote de malha, de revistas, livros, fui
ao Dops, peguei o elevador, tinha uma sala assim, estava como nós
assim, uma poção de tiras, a mesa do delegado lá no fundo: – “Dá
licença doutor?”
“Pois não”!
“Eu queria visitar o professor Carlos Marighella”.
Com a cara e a coragem que eu fiz, hoje eu fico pensando. Era
a polícia civilizada, não havia se instalado ainda a grande repressão
que veio com os generais, o governador era o Adhemar de Barros, eu
joguei também com isso e sabia que não seria preso.
“Faça o favor de entrar!”

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