marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
38 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Numa veloz combinação dos dois,
Porquanto a mesma só virá depois.
Então, do vaso em se chegando à boca,
Uma chama, rebomba, estrugue, espouca
O violento estampido que anuncia
Pronta a combinação. À luz do dia
Faz-se a combinação rapidamente
(Nesse caso o perigo é iminente).
De uma notável propriedade goza:
Atravessa veloz qualquer porosa
Superfície e, por ser incomburente
É queimado, não queima. A luz ardente
Que possui é de cor azul no tom,
E, na harmônica química, o seu som
É típico e semelha um longo ronco
De um urso velho dorminhoco e bronco”.^39

Nessa prova em verso, um detalhe pertinente é o jogo de palavras
um tanto desconhecidas. Isso se deve ao próprio hábito de leitura e
a fama de “come dicionário”, atribuída por sua irmã Tereza. Palavras
como “rebomba”, “estruge” e “espouca” não são vocábulos tão comuns.
Por outro lado, ambas as resoluções de provas aqui dispostas exprimem
a habilidade do estudante com os respectivos assuntos abordados.
No final da década de 1920 chegava ao fim a “República Velha”,
caia o monopólio da chamada política do café com leite. As elites
do poder apresentam sucessivos choques entre si, que produzem
uma circulação no poder. A década de 1920 é caracterizada por um
acentuado desgaste das oligarquias paulista e mineira. No campo da
arte, de 11 a 18 fevereiro de 1922, são os artistas que se manifestam
na Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo. No


(^39) MARIGHELLA, Carlos. Op. cit., pp. 8-9.

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