marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 389

Aí eu entrei com o pacote, sentei na frente do delegado, ele disse:
“Um momento.”
Passou a mão no telefone e falou não sei o quê, ele dava as costas ao falar:
“Olha, eu sou o delegado substituto, porque hoje é feriado e o
titular não está aí. Eu não posso dar a licença pro senhor.
Eu falei:
Eu posso entregar isso ao menos?
O delegado:



  • Ah! Sim. Põe o nome dele aí, vai lá na carceragem e o carcereiro
    entrega para ele.
    Aí eu escrevi um bilhete assim: “Marighella aí vai uma roupa,
    revista e um grande abraço e tal... Mande um bilhete de volta dizen-
    do o que você quer, mande de volta, embaixo do bilhete, o que você
    quer!” Ele escreveu o seguinte: “Noé, não preciso de nada, a não ser
    sabão e pasta de dente”.
    Aí atravessei a rua, comprei a pasta de dente, sabão, cheguei lá
    e entreguei e fui para casa tranquilo, com o dever cumprido. Aí,
    quando ele saiu foi lá pra casa, saiu logo depois, foi interrogado, fo-
    tografaram ele de todo o jeito. Ele era uma personalidade por causa
    daquela resistência dele no cinema lá no Rio. Foi lá pra casa e ficou
    algum tempo comigo, até escreveu um poema lá.


Edson – Qual poema?
Noé – Poema da Avenida Angélica, uma coisa assim. Ele lá da
janela onde estava, do quarto que eu dei para ele, tinha um cemitério
lá. Ele fez uma imagem desse poema em cima de um poema de Castro
Alves. Ele dizia que eram os gorilas, que aqueles túmulos lá pareciam
os gorilas avançando (risos).


Edson – Bom eu conheço a que o Vladimir me mostrou.
Noé – O Sachetta. Aí você vê pela mãe do Marighella, quem ele
era. Ela parece uma rainha, uma coisa linda, parece uma princesa.

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