marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 41

E imenso bolachão – foi a argamassa...
Que ligaste ao café”.^44

Carlos Marighella se aproximava do Partido Comunista e sua
prisão foi um arraso para a família. O pai, Augusto Marighella,
temendo maiores complicações, resolve enterrar os livros de Mari-
ghella.^45 A inserção no Partido leva Marighella a se transferir para o
Rio de Janeiro.
Hoje, num olhar a distância, Tereza se recorda de quando veio
para o Rio de Janeiro a procura de emprego e estudo, que já havia
iniciado na Bahia, em 1948; o Partido Comunista havia sido cassado
e na esteira da repressão do governo Dutra, também foram cassados
os mandatos dos deputados comunistas, entre eles Marighella. Tereza
chega ao Rio de Janeiro no final de 1947. Marighella era deputado.
Foi pedir a ele que lhe arrumasse um emprego, pois já era formada
como professora primária, desde 1945, na Bahia. Ele disse que não
ia influenciar em nada, que não daria carta nenhuma. Marighella a
orientou para fazer concurso.^46 Tereza Marighella foi aprovada no
concurso do governo do Estado do Rio de Janeiro, hoje é professora
aposentada, lecionou no presídio Esmeraldino Bandeira, em Bangu,
foi uma amiga para os detentos, seguiu seus próprios caminhos, sem
o menor ressentimento com o irmão. Diga-se de passagem, uma pro-
fessora realizada. Mas, em alguns momentos da trajetória de Tereza
Marighella, temos um exemplo típico do modo como uma imagem
negativa esteve associada a seu irmão. Ela, por duas vezes, tentou
arrumar emprego no Rio de Janeiro, o motivo de não consegui-lo era
o mesmo: o sobrenome. Na primeira vez, quando chegou da Bahia,
logo no início de 1948, tentou arrumar emprego junto a Secretaria
de Fazenda do Estado, lá conheceu a primeira retaliação, com aquele


(^44) MARIGHELLA, Carlos. Rondó da Liberdade. Op. cit., p. 13.
(^45) Cf. depoimento de Tereza Marighella.
(^46) Idem.

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