marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 45

pela Lei nº 9.140, de 1995,^50 ressalvando-se que essa lei ainda não é
o bastante para se fazer justiça aos crimes cometidos pela repressão
política, durante a ditadura militar. O Estado brasileiro reconhece
oficialmente o assassinato de Marighella. Nota-se que no início dos
trabalhos o Estado organizou a Comissão visando reconhecer casos
onde ficava comprovada a morte de pessoas dentro das dependências
do Estado. Marighella foi morto na Alameda Casa Branca, rua loca-
lizada no bairro dos Jardins, em São Paulo. Foi fuzilado sem chance
alguma de reação, num cerco policial envolvendo 45 policiais. Relatos
oficiais da época atribuíam um tiroteio que acabaria por provocar o
assassinato de Marighella, que segundo o Dops, havia reagido. Laudo
pericial do próprio Dops constatou que do revólver calibre 22, portado
por Marighella, nenhum tiro foi dado.^51
Como assinalou Jânio de Freitas: “Não poderia haver troca de
tiros entre autores de um cerco e o cercado que não usou a arma cuja
posse foi atribuída”.^52
O personagem deste trabalho é Carlos Marighella e, nessa parte,
a narrativa se restringe a sua relação com Clara Charf e o filho Carlos
Augusto, procurando ressaltar aspectos diferenciados da vida coti-
diana que revelam facetas desconhecidas do personagem. A ordem
cronológica dos fatos narrados não se acomoda numa sequência,
assim como a contextualização dos períodos abordados é sucinta,
sofre cortes temporais, que ao longo do trabalho serão devidamente


(^50) É importante apontar o fato de que a Lei nº 9.140/95 preconiza a indenização de
mortos e desaparecidos durante o regime militar mediante provas documentais apre-
sentadas pela Comissão de Mortos e Desaparecidos. Logo, recai sobre as famílias um
levantamento pormenorizado sobre o destino do desaparecido político. Boa parte da
documentação encontra-se sob domínio do Estado, dificultando a comprovação do
desaparecimento.
(^51) Maiores detalhes sobre o trabalho da família ao longo dos anos e na Comissão de
Mortos e Desaparecidos durante a ditadura militar, ver o cuidadoso trabalho de
Emiliano José. Carlos Marighella: o inimigo público número um da ditadura militar.
São Paulo: Sol & Chuva, 1997. Em especial o capítulo 2.
(^52) FREITAS, Jânio de. “A Prova Escrita”. Folha de S. Paulo, São Paulo,14 maio. 1996.

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