52 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA
E assim que o samba que nasceu na Bahia
acabou nascendo também no Rio de Janeiro”.^59
Não se deve entender Marighella como um conhecedor profundo
de música. Trata-se aqui apenas de apresentar costumes do perso-
nagem no seu cotidiano. À mesma medida, os poemas escritos por
Marighella são de todo compostos de versos previsíveis, sem perder o
brilho: era um revolucionário poeta e não um poeta revolucionário.
Na cultura brasileira samba e futebol são ingredientes indispen-
sáveis; porém, não são obrigatórios. Futebol era uma das paixões de
Marighella, torcedor do Corinthians, em São Paulo, e do Flamengo,
no Rio de Janeiro, clubes de grande popularidade nacional. Na Bahia,
torcia pelo Vitória. Na clandestinidade, não poderia ir aos estádios,
mas procurava acompanhar lendo as notícias esportivas. Num epi-
sódio ocorrido dentro de um táxi, acompanhado por Clara Charf,
um chofer o interrogou sobre uma partida entre times de São Paulo.
Marighella estava desinformado. Ao sair do táxi ele lamentou com
Clara o constrangimento por não ter conhecimento do fato narrado
pelo motorista.^60 A simpatia pelo futebol fez Marighella registrar um
poema em homenagem a Garrincha, “Alegria do Povo”, destaca-se
uma estrofe que demonstra a mortal jogada do ponta-direita:
“Voa Garrincha,
invade a área contrária,
indo até a linha de fundo
para cruzar...
E as redes balançam
no delírio do gol”.^61
(^59) MARIGHELLA, Carlos. Poemas: Rondó da Liberdade. Op. cit. pp. 46-47.
(^60) Cf. depoimento de Clara Charf.
(^61) MARIGHELLA, Carlos. Rondó da Liberdade. Op. cit., p. 50.