marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 55

convivência com Clara atos mínimos como pendurar toalha e lavar
louça eram imprescindíveis. Ou seja, nesse aspecto Marighella se
afastava de uma concepção machista, reinante na sociedade brasileira.
Já foi destacada a avidez de Marighella pelo estudo de línguas estran-
geiras. Uma situação cômica ocorreu em 1952, quando viajou para a
China e para a ex-União Soviética. Marighella chefiou uma delegação
do Partido Comunista. Clara destacou que o conhecimento do marido
sobre a língua inglesa centrava-se na grafia, ou seja, Marighella tinha
a prática de consultar o dicionário e verificar a grafia e o som das
palavras, bem como o seu respectivo significado, enfim, um amplo
domínio do vocabulário. Quanto à pronúncia, não era das melhores.
Na viagem à China, aprender o idioma do país revolucionário de Mao
Tse-tung exigiria muito tempo. A solução encontrada por Marighella
foi treinar o inglês. Passaram a dialogar tudo em inglês na convivência
mais íntima. O prazo era de um mês. Clara explica que ele possuía
um problema, em algumas pronúncias ele trocava o H e o R pelo L,
por exemplo: ao dizer hat, chapéu em inglês, dizia lat. Rato em inglês,
rat, ele pronunciava lat. Realizado o treinamento, Marighella partiu
para a viagem. Por medida de segurança ela ignorava o país que ele
iria. Quando retornou, um ano mais tarde, Clara o interrogou sobre
como havia se virado com os defeitos da pronúncia. Marighella expli-
cou que havia ido à China e à União Soviética. Na China, Marighella
explicou que, assim como ele, o chinês trocava o R pelo L, e acabaram
se entendendo.^65 No decorrer da década de 1950, a convivência do
casal passou a ser dividida com Carlos Augusto.
Carlos Augusto Marighella nasceu em 22 de maio de 1948, no
bairro do Méier, na cidade do Rio de Janeiro. Era o filho de Carlos
Marighella com uma funcionária da Light, Elza Sento Sé. Elza nasceu
na Bahia, em 1922, o curto romance com Marighella ocorreu quando
era funcionária da Light. Os dois se conhecem nas atividades políticas


(^65) Cf. depoimento de Clara Charf.

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