marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
56 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

envolvendo os funcionários da empresa, que reivindicavam melhoria
nos salários.^66 Os comunistas atuavam politicamente na empresa.
Do romance com Marighella, terminado no mesmo ano de 1948,
nascera o filho Carlos Augusto. Carlinhos não manteria contato com
o pai, isso ocorreria anos mais tarde. A razão de tal afastamento não é
difícil de ser analisada. O ano de 1948 assinalou nova clandestinidade
para os militantes do PC. O contato com o filho só poderia trazer
transtornos. Ana Montenegro explica que a mãe não pôde registrar
Carlinhos por uma razão muito simples: Marighella estava ilegal.^67
Elza retornou para a Bahia com o filho. Diante da situação em que se
encontrava seu pai, a melhor solução seria ir para Salvador. Carlinhos
passou oito anos junto da mãe em Salvador. O retorno para o Rio de
Janeiro foi para conhecer o pai. Favorecia esse encontro a situação
política do país, um pouco menos acirrada para os comunistas. O
PC apoiou Juscelino Kubitschek para a Presidência da República;
com a vitória de JK, a tendência era a situação se amenizar. Porém,
em 1957, a casa de Marighella e Clara, no Méier, foi invadida pela
polícia. O casal não se encontrava e por isso escaparam de ser presos.
Em 1958, iniciou-se o único período em que Clara e Marighella
viveriam com suas reais identidades. Já era hora de conhecer Carli-
nhos. No retorno para o Rio, em princípio, Carlinhos ficaria sob os
cuidados da avó materna. Marighella alugou um apartamento na Rua
Mem de Sá para os dois. Até então pai e filho não se conheciam pes-
soalmente. O encontro ocorreu na escola Vladimir Mata, Carlinhos
cursava a terceira série primária, é dele a narrativa que se segue: “fiquei
ressabiado, impressionado com a figura física, me aproximei. Meu pai
me colocou no colo e me beijou. Era uma pessoa extremamente cari-
nhosa e revelava ali seu traço terno e atencioso com os jovens, apesar
de ter sido um homem muito atarefado”.^68 Ele passou a viver com


(^66) Depoimento de Carlos Augusto Marighella colhido pelo autor em 6.11.1998.
(^67) Depoimento de Ana Montenegro colhido pelo autor em 6.11.1998.
(^68) Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12.07.1979.

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