marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
70 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Janeiro, em 1940. Noé afirmou que no presídio da Ilha Grande
encontravam-se presos políticos das mais variadas tendências: integra-
listas, comunistas, um número considerável de militares do Exército
e da Marinha, que participaram da Aliança Nacional Libertadora:
trabalhadores, camponeses, intelectuais, analfabetos, enfim, pessoas
das mais variadas ascendências.^86 A organização dos comunistas dentro
do presídio se realizava através do Coletivo. O que era esse coletivo?
Regulavam a relação com os guardas, a relação com o diretor e, o mais
importante, desenvolvia um trabalho cultural, educativo, esportivo
e, como não poderia deixar de ser, político entre os detentos. Era,
em síntese, uma resistência dos detentos, além de mantê-los com
moral elevada.
De acordo com Gertel, Carlos Marighella era um dos líderes do
Coletivo dos comunistas e, para fazer valer sua liderança, não recorria
a métodos de um militante tradicional:


Marighella era um homem a quem os companheiros levavam os problemas
domésticos. Você via o Marighella conversando, às vezes, com um compa-
nheiro, com um camponês, um ferroviário, um ex-cabo, um ex-marinheiro,
cuidando de problemas particularíssimos, ele ouvia, provavelmente acon-
selhava, era muito ouvido por todos.^87
O que mais chamava a atenção de Noé era o fato de Marighella
não ser uma pessoa experiente, não era um velho conselheiro, era
simplesmente um líder. Ao comparar Prestes a Marighella, Noé ex-
plica que a diferença entre os dois se resume à intimidade, ou seja,
entrar na intimidade com Prestes era muito difícil, apesar de seu lado
amável e cordial, fato que corrobora a avaliação de Ana Montenegro.
Com Marighella havia uma proximidade que relegava o político a um
outro plano, não o desprezando completamente. Na verdade, de nada
adiantaria uma discussão política sem levar em conta os estorvos pro-


(^86) Cf. depoimento de Noé Gertel.
(^87) Idem.

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