marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 71

vocados com a prisão. Marighella sabia disso e procurava se aproximar
ao máximo das pessoas. Participava de várias tarefas, como a redação
de um jornal manuscrito, todo escrito por ele, em letra de forma. No
artesanato era um dos que mais se destacavam. Segundo Noé Gertel,
os presos faziam um trabalho artesanal a partir do coco. Ele explica
que o coco tem um brilho próprio, mais forte que o verniz. Para se
chegar a esse ponto é necessário retirar a casca e lixar o coco até ir
surgindo o brilho. Marighella era um dos artesãos de maior destaque,
gostava de copiar objetos da arte marajoara. Os presos possuíam um
livro de uma estudiosa da arte marajoara, Heloísa Torres, que servia
de fonte para o artesanato.^88 A utilidade desse artesanato situa ainda
mais o grau de organização dos presos. Esse artesanato era entregue
aos parentes dos presos no Rio de Janeiro para ser vendido, com a
permissão da direção do presídio. Com o dinheiro arrecadado, eram
remetidos alimentos para a ilha, enriquecendo assim a dieta dos pre-
sos. A direção do presídio fornecia apenas a alimentação básica. O
Coletivo é que teve a iniciativa de suplementar a alimentação. Além
do artesanato, cultivavam verduras e tudo o que pudesse para reforçar
a alimentação.^89 Clara Charf acrescentou que, durante a trajetória de
Marighella na prisão, ele adquiriu um calombo no ombro por tra-
balhar no transporte de água. Apresentava também um problema na
vista em decorrência de se dedicar ao artesanato, que era praticado à
noite, reservando o dia para outras tarefas.^90 Mesmo possuindo uma
liderança, Marighella não admitia privilégios, era ativo nas tarefas a
serem desempenhadas pelo Coletivo, não só ativo como também um
dos principais incentivadores.
A resistência organizada pelo Coletivo dos comunistas é sem
dúvida uma das páginas mais dignas dos presos políticos brasileiros.
Amenizava a agonia dos prisioneiros, ocupando-os com diversas


(^88) Idem.
(^89) Depoimento de Clara Charf colhido pelo autor em 03.11.1998.
(^90) Idem.

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