marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
72 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

atividades. A vida, como a luta, de alguma forma continuava. A
educação e a política também estavam presentes no cotidiano da
prisão. Na educação desenvolveram a alfabetização, escolas, uni-
versidades, palestras. Qualquer conhecimento de um companheiro
seria dividido com os demais. Marighella se destacou no ensino de
Matemática e Português, além de História do Brasil. Noé ressalvou
que Marighella era um dos professores que mais se destacavam,^91 o
que não seria difícil de se constatar, haja vista o seu passado nos es-
tudos. Inclusive, no cárcere, Marighella não abandonou um de seus
hábitos mais vorazes: aprender línguas estrangeiras. Do inglês e do
francês, ele assimilou mais a grafia e o significado das palavras, era
um autodidata.^92 O mesmo se deu com o idioma grego. Clara Charf
esclarece que o grego era usado, posteriormente, em anotações para
driblar a repressão.^93 Na cultura, os prisioneiros elaboravam peças de
teatro, quando Marighella atuava no papel de turco.
As discussões políticas também eram elemento indispensável, afinal;
tratava-se de presos políticos reunidos num coletivo de comunistas.
Mesmo encarcerados na Ilha Grande, os prisioneiros recebiam notí-
cias do mundo exterior. No período de detenção na Ilha Grande, se
desenrolava o conflito entra as potências aliadas contra o nazifascismo.
Um dos debates mais polarizados na prisão é narrado por Noé Gertel:


o Partido se reorganizava com a chamada Comissão Nacional de Organiza-
ção Provisória (CNOP), os comunistas levavam para a cadeia os problemas
que o Partido vivia aqui fora. O Partido ofereceu colaboração no esforço de
guerra. Era uma colaboração integral aqui fora. Lá dentro começou a dis-
cussão: vamos colaborar trabalhando para o presídio? Uma parte achava que
sim, seríamos igual a preso comum. Outra parte, dirigida pelo Marighella,
achava que não, isso jamais. A conversa que eu tive com o Marighella foi

(^91) Cf. depoimento de Noé Gertel.
(^92) Idem.
(^93) Cf. depoimento de Clara Charf.

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