marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 73

essa, quando essa coisa estava quente, eu disse: – “Marighella, isso pode
levar a uma cisão”. Minha preocupação era unidade. Ele disse com toda
clareza: – “Vai levar a uma cisão”.
O impasse se fazia presente e Marighella, na noite em que é eleito
presidente do coletivo tomou uma posição decisiva sobre a questão.
Prossegue Gertell:


Marighella perguntou a um por um, foi de cubículo em cubículo: – “Tá
com o Coletivo ou está com a casa?” E dependendo da resposta: – “Fora!”
Os camaradas arrumavam as malas e iam embora, iam pedir para o diretor
do presídio arranjar alojamento. Não foi nem a metade.^94
A decisão de Marighella era objetiva; para ele o contato direto
entre presos e guardas poderia gerar atrito. Uma garantia conquis-
tada pelo Coletivo junto à direção do presídio, valendo-se de muito
esforço, incluindo aí greve de fome. O Coletivo havia conquistado
para si a relação entre os prisioneiros com a direção e os guardas. Caso
contrário, Marighella temia que o Coletivo perdesse a autoridade.^95
O combate ao nazifascismo, durante a Segunda Guerra Mundial,
não se restringiu à política. No esporte tinha competição envolven-
do comunistas e integralistas. As modalidades eram natação, vôlei,
corrida e futebol. Os comunistas garantiram a vitória em três delas,
excetuando a corrida. Marighella sempre manteve interesse particular
para com exercícios físicos; na cadeia não será diferente, participará
sobretudo do futebol, de preferência descalço, jogando na posição
de zagueiro.^96
As prisões de 1932, 1936 e 1939 não condenam Marighella ao
ostracismo. Em 1936, ele se destacou pela valentia diante das torturas.
Mais tarde, vai se caracterizar por uma atuação determinada no obje-


(^94) Cf. depoimento de Noé Gertel.
(^95) Idem.
(^96) Idem.

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