marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
78 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Nos debates parlamentares aflora uma característica que explica,
em parte, a grande quantidade de discursos do assíduo deputado Car-
los Marighella. Quando assumia a palavra na tribuna, Marighella pro-
curava conduzir seus discursos sem procurar deixar qualquer dúvida a
respeito do que expunha. A “metralhadora” girava por todos os lados
da matéria a ser tratada, sendo o deputado várias vezes interpelado
pelo presidente da Mesa para que concluísse seu pronunciamento.
Entretanto, Marighella sempre procurava estender um pouco mais
o tempo que lhe era de direito, em alguns momentos contava com o
aparte de outros deputados, o que facilitava ainda mais seus planos.
Os argumentos eram minuciosamente expostos, sendo difícil contestá-
lo. Na sessão do dia 2 de abril de 1947, Marighella, antes de tratar
do assunto envolvendo os moradores do bairro Corta-Braços, havia
debatido um tema relacionado com a majoração de taxas na Univer-
sidade do Brasil, como a taxa de matrícula e frequência. Marighella
argumentou que os estudantes além de conviverem com os gastos de
livros e material didático ainda iriam arcar com o aumento. Se não
bastasse denuncia a má remuneração do professorado brasileiro, como
ponto também a ser observado pelos demais deputados. Adiante,
avaliou a questão propondo que as taxas cobradas aos estudantes
fossem mínimas, “senão de todo abolidas”.^101 Por fim encaminhou
um projeto de lei para que fosse liberado um crédito suplementar em
nome da Universidade do Brasil, no valor de três milhões de cruzeiros,
que era a moeda da época. Após expor o projeto de lei, e já no final
de sua exposição, Marighella entrou com a questão do mandato de
desapropriação expedido na Bahia. Prosseguindo em seu discurso,
Marighella foi advertido pelo presidente da sessão que seu tempo es-
tava esgotado, polidamente agradeceu o alerta e prosseguiu sua prosa.
Em outra sessão discursou sobre a casssação do registro do Partido
Comunista. Marighella advertia que esse seria o caminho mais curto


(^101) Idem, p. 174.

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