marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
80 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

Tema atual, como a utilização da energia nuclear, foi objeto dos
debates proferidos por Marighella. Em 1º de julho de 1946, quando
se discutia a experiência nuclear estadunidense no atol de Bikini, o
deputado baiano não perdeu a oportunidade de manifestar a oposição
da bancada comunista a tal fato e fez um alerta:


a energia atômica deve ser colocada a serviço da paz e do progresso da hu-
manidade, constituindo patrimônio científico de todos os povos do mundo;
e não deve ser ela utilizada como arma de guerra, a serviço de grupos ou de
governos já que assim se desvirtuaria a finalidade da ciência, deixando de
ser a energia atômica fonte de desenvolvimento dos povos, para constituir
um terrível fator de destruição e, certamente, de opressão.^105
A pluralidade de temas discutidos na Câmara dos Deputados
tornaria Marighella um dos mais combativos parlamentares, fato
reconhecido até mesmo por seus adversários políticos. Anos mais
tarde, a revista Veja circulava numa edição histórica com Marighella
na capa. A reportagem descrevia a trajetória política de Marighella
sempre de modo superficial, com o exclusivo objetivo de caracterizar
uma imagem negativa. Quando registrou a atuação do deputado
baiano, preferiu exaltar a quantidade de discursos, sem contudo
se esmerar no conteúdo. Destacou a revista, que “até ser cassado,
Marighella continuou falando quase todos os dias”. Mais adiante,
ao comentar a cassação do mandato dos comunistas, a reportagem
não mediu consequências: “Marighella saiu dos salões brilhantes da
Câmara para os quartos escuros da clandestinidade”.^106 Fica implícita
a intenção de propor uma linearidade na trajetória de Marighella
conciliada a uma intensa agitação, sem analisar a conjuntura do país
e dos fatos narrados. Pode-se contrapor a esse episódio o fato de a


(^105) CAMARGOS, Márcia. “Um Constituinte Atuante”. Unidade (Órgão Oficial do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo), São Paulo, nov. 1987,
nº 9, p. 7.
(^106) Veja, 20.11.1968, nº 11, p. 16.

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