marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
82 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

preferido dos militantes, dentro da casa, era exatamente o quarto
onde dormia Marcucha e sua avó. Esse quarto era dividido por um
guarda-roupas, ficando do outro lado o quarto de seus pais. Como
o acesso ao recinto se restringia aos militantes do Partido, Marcucha
subia no guarda-roupa para ouvir o que estava se passando no outro
lado. Mesmo sem entender o que discutiam, o prazer de bisbilhotar
as reuniões se repetiu algumas vezes, até que uma queda improvisada
denunciou o espião, que levou uma tremenda bronca. Dos que parti-
cipavam desses encontros, alguns entravam na casa, cumprimentavam
ligeiramente os moradores e logo se trancafiavam na reunião. Como
Explica Marcucha: “entravam sisudos e sisudos saíam – Boa tarde,
Boa Noite! Nenhuma conversa, nenhuma aproximação além da
reunião”.^109 Outros mais descontraídos apresentavam comportamento
mais amistosos; é o caso de Pedro Pomar, Apolônio de Carvalho e
Carlos Marighella. Entravam na casa e já iam ao encontro de Haydée
Santos, mais propriamente dona Caçula – a avó de Marcucha.
Abraçavam-na e perguntavam pelos seus doces e bolos. A respeito
de Marighella há uma recordação especial. Marcucha, aos seis anos
de idade, adquiriu uma pleurisia – doença relacionada a inflamação
na pleura – provocada por uma pneumonia mal curada. A doença,
na época, tinha sua cura condicionada à importação de antibióti-
cos extremamente difíceis de serem encontrados. Com a ajuda dos
companheiros do Partido Comunista foi possível adquirir doses de
estreptomicina – antibiótico de alta eficácia no combate a doenças
infecciosas. Marcucha sofria com as doses diárias do antibiótico, que
deveriam ser aplicadas de quatro em quatro horas. Chegou ao ponto
de não saber mais qual região do corpo que não havia sido picada.
Carlos Marighella – então deputado constituinte – se prontificava a
substituir os pais de Marcucha na árdua tarefa, que era efetuada de
modo descontraído, conforme narra Marcucha:


(^109) Depoimento de Marcos Paraguassu colhido pelo autor em 5.11.1998.

Free download pdf