marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
88 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

O artigo avançava em direção a uma autocrítica, onde Marighella
atribuía parte da situação deflagrada ao próprio Partido, quando
diz: “não organizamos o movimento de massas; nosso movimento
sindical é muito débil”.^120 E concluiu defendendo a formação de
uma frente democrática “com forte apoio de amplas organizações de
massa”,^121 para se chegar à verdadeira democracia. João Amazonas
era membro do Comitê Central do Partido Comunista juntamente
com Marighella, e é dele a informação que se segue, onde podemos
compreender um pouco da impetuosidade de Marighella diante da
repressão do governo Dutra:


as sedes e os jornais do Partido eram frequentemente invadidos por agentes
da repressão. Muitas vezes Marighella cumpria a dura tarefa de exigir a
retirada dos policiais armados até os dentes. Homem forte e valente, não
raro respondia à pancadaria com socos e pontapés nos esbirros policiais.^122
O governo Dutra voltaria a sofrer fortes ataques do líder comu-
nista. Um ano mais tarde, em janeiro de 1949, Marighella apontava
o deficit orçamentário calculado em 1.300.000 cruzeiros, moeda da
época. Para cobrir esse deficit Marighella denunciou o governo, que
recorrera ao aumento de impostos e a emissão de moeda, gerando
mais sacrifício para a classe trabalhadora. Ele explicava que “o custo
da alimentação elevou-se em cerca de 342% desde 1939, só para a
capital de São Paulo”.^123 Estendeu seu artigo acusando o governo
brasileiro pelo destino, em seu orçamento, de “38% das despesas para
gastos militares”, normalmente usados para adquirir equipamentos
junto aos Estados Unidos.^124 Em 1947, a Revista Problemas traz um
pronunciamento do deputado Carlos Marighella no Congresso, re-


(^120) Idem, p. 4.
(^121) Idem, p. 5.
(^122) Depoimento de João Amazonas a Emiliano José, s/d.
(^123) MARIGHELLA, Carlos. “Nossa Política”. Revista Problemas, Rio de Janeiro, ano 2,
nº 16, p. 3-11, jan. 1949.
(^124) Idem, p. 4.

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