marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
EDSON TEIXEIRA DA SILVA JUNIOR 89

troativo ao dia 4 de julho de 1946, que trata da religião, do Estado
e da família. Sobre a questão da família, Marighella particularizava
a situação da mulher dentro do mercado de trabalho, ou “dentro da
produção social”.^125 Para o parlamentar, o homem era o “único que
está a trabalhar ligado à produção e que sustenta a família e, por isso,
se acha com o direito de fazer todas as imposições sobre a mulher”.^126
Regra geral, os artigos de Marighella eram arrolados à conjuntura
nacional e as posições defendidas pelo Partido Comunista.
Na clandestinidade, após a cassação dos mandatos, Marighella
passou a atuar em São Paulo. A vida clandestina, por si só, implica
uma série de medidas de segurança, que alteram por completo a vida
dos militantes. Todo cuidado é pouco. No fim de 1949, Marighella
atuava como Secretário Político do Partido em São Paulo, e teve um
“ponto” com um jovem militante revolucionário. “Ponto” era o local
onde os militantes marcavam seus contatos, poderia ser numa rua,
dentro de um carro, ou num apartamento, numa residência qualquer,
denominada aparelho. Naquele “ponto”, em plena clandestinidade,
com vários assuntos políticos a serem tratados e a polícia cercando
os comunistas, Marighella ouviu atentamente o jovem militante
narrar problemas pessoais. O jovem estava namorando uma operária
tecelã e temia revelar seu envolvimento político. Marighella sugeriu
que ele estudasse a situação e expusesse a verdade à namorada. Num
“ponto” posterior, os dois voltaram a tratar do assunto. A namorada
compreendeu o rapaz, ambos se casariam e ela impôs uma condição:
só se casava mediante a compra de móveis de quarto. Marighella ria
da situação e pacientemente procurava auxiliar o rapaz. O empecilho
não acabou por completo. O casal deveria se transferir de São Paulo
e a noiva só iria acompanhar o militante se os móveis de quarto fos-
sem juntos. Marighella, mais experiente, explicaria que não haveria


(^125) MARIGHELLA, Carlos. “A Religião, O Estado, A Família”. Revista Problemas, Rio
de Janeiro, ano 1, nº 2, pp. 20-34, set. 1947.
(^126) Idem, p. 32.

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