marighella

(Ornilo Alves da Costa Jr) #1
98 CARLOS, A FACE OCULTA DE MARIGHELLA

O Estado de S. Paulo, jornal que compunha a grande imprensa da
época, trouxe, em partes, as denúncias de Kruschev. Num primeiro
momento, o núcleo dirigente do PC encarou a informação como uma
invencionice da burguesia. Diógenes Arruda, representante do PC
brasileiro no XX Congresso, retornaria ao país 6 meses depois, pois
se encontrava em viagens pela China e algumas capitais europeias.
A posterior confirmação do informe abre uma crise dentro do PC.
A reação de Carlos Marighella diante da confirmação dos crimes
de Stalin não poderia ser diferente do da maioria dos militantes:
ao ocupar a tribuna na primeira reunião da Executiva do Partido
Comunista, Marighella chorou compulsivamente. Seria algo como
se o chão desaparecesse de repente. Ampliando o que significava a
dedicação ao Partido, vale a pena conferir um discurso de Marighella
pronunciado na reunião do Comitê Nacional do PC e publicado na
Revista Problemas, em 1952. Havia uma seção da revista que destacava
personalidades de renome do movimento operário internacional, no
caso específico, o revolucionário grego Nikos Beloyannis. Escreveu
Marighella:


Só os que estão armados com a ideologia comunista, os que têm a plena
convicção da vitória do comunismo, só os que colocam o amor ao Partido
acima de tudo e não separam sua vida da do Partido podem sair vitoriosos
das provas mais difíceis diante de um inimigo desesperado.^144
Contudo, Marighella não deve ser compreendido aqui como
um órfão ideológico. O fato concreto é que sem a menor cerimônia
desabafa seus sentimentos através do choro visível a todos os pre-
sentes na reunião. Certamente, outros militantes tiveram a mesma
reação. No caso de Marighella, esse fato ficou notório, talvez para
ilustrar um exemplo do impacto do XX Congresso nos comunistas
brasileiros.


(^144) MARIGHELLA, Carlos. “Beloyannis: Modelo de Firmeza Proletária”. Revista Pro-
blemas, Rio de Janeiro, ano 5, nº 42, pp. 125-126, set./out. 1952.

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