Viaje Mais - Edição 174 (2016-11)

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VIAJE MaiS^31

e entra na Espanha, onde o rio passa


a se chamar Duero – na realidade,


ele nasce no norte da Espanha, na


Província de Soria, e só deságua no


Atlântico em território luso. Antes


de cruzar a fronteira, po rém, aposte


noutra pitoresca região ainda com


um quê de segredinho: Vila Nova


de Foz Côa – onde estão pinturas


rupestres de 20 mil anos atrás e o


rico Museu do Côa – e a aldeia his-


tórica de Castelo Rodrigo. Dali, vo-


cê pode esticar a viagem um pouco


mais ao sul, rumo à Serra da Estrela


(veja o box na pág. ao lado), ou con-


tinuar para o norte e avante, dei-


xando o curso do Douro para trás.


Essa porção de Portugal conserva


um sem-fim de castelos e outros res-


quícios medievais. Faz sentido. O


país, de fato, se originou ali. Tomada


pelos romanos, germânicos e depois


pelos mouros, a nação conseguiu a


independência em 1143, pelas mãos


e pela espada de d. Afonso Henri-
ques, primeiro rei português.
Uma parte desses primeiros tem-
pos de reino pode ser vista em Bra-
gança, a 104 km ao norte de Vila
Nova de Foz Côa, e principal cidade
da região de Trás-os-Montes. Na-
turalmente situada em terreno ele-
vado, já bem perto da divisa com a
Espanha, Bragança tinha a função
estratégica de, na era medieval, avis-
tar inimigos a dezenas de quilôme-
tros. Hoje, os visitantes encantam-
-se com a cidadela fortificada e o
castelo arquitetado naquela época,
especialmente a chamada Torre da
Princesa, as torres góticas, as mu-
ralhas e o pelourinho.

TERRA DE MUITAS TRADIÇÕES
À parte rememorar as origens
da nação, Trás-os-Montes é a terra
de diversos símbolos lusitanos: as
senhoras que se vestem de preto da

cabeça aos pés, os trajes típicos com-
postos por lenços e franjas e algu-
mas das receitas e iguarias mais em-
blemáticas, como caldo verde, co-
zido (que leva todo tipo de carnes),
presunto defumado e outros em-
butidos, como chouriço e alheira.
É também a região mais isolada de
Portugal. Aldeias de pedra e ruínas
medievais se escondem entre cam-
pos de centeio, paisagem que trans-
forma Trás-os-Montes no lugar per-
feito para uma total desconexão
com o mundo moderno – tanto
que, por muitos anos, serviu de re-
fúgio para perseguidos políticos.
Na divisa com o Minho, irrompe
literalmente o maior exemplo da
natureza grandiosa que dá o tom
nessas terras setentrionais: o Parque
Nacional de Peneda-Gerês, um dos
mais belos do país. Ao longo de
montanhas e rios, despontam flo-
restas de carvalhos e pinheiros, ruí-

No Parque Nacional de Peneda-Gerês, na divisa de Trás-os-Montes com o Minho, a Terrinha prova que também é um destino de natureza
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