Clipping Banco Central (2020-01-11)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Entrevista da 2ª
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

cidadãos a democracia será forte. Sempre que você
entrega dados para outros, você dá poder a eles.


A sra. discute "a crença equivocada de que a
privacidade era um valor ultrapassado". Como foi
construída essa crença? Resultado de vários
elementos, dois deles proeminentes. Primeiro, era uma
narrativa conveniente para as companhias de tecnologia
venderem de modo a justificar seu modelo de negócios.
É famosa a afirmação de [Mark] Zuckerberg de que nós
havíamos "evoluído" em nossas condutas de
privacidade.


Segundo, o link entre perda de privacidade e dano é
muito mais direto e tangível no mundo offline do que no
mundo online. Então é fácil esquecer por que
privacidade é tão importante, dado que grande parte
das nossas vidas ocorre online.


Quando alguém furta seu diário, você percebe sua
ausência e pode imediatamente pensar em como
podem utilizá-lo indevidamente. Quando dados sobre
você são coletados online, não há nenhum rastro. Os
danos podem ser similares ou piores do que os danos
da perda de privacidade no passado, mas você não vai
perceber. Você pode perder um emprego por causa de
discriminação injusta baseada nos seus dados, mas
você jamais saberá o que aconteceu.


Muitas pessoas usam as redes sociais para se
comunicar com parentes e amigos que vivem longe.
Podem ver as crianças crescendo e compartilhar
experiências, reforçando relações que, em outros
tempos, seriam muito distantes. Não é uma recompensa
pela perda de privacidade? Comunicar-nos online com
as pessoas que amamos é muito importante para os
que vivemos longe. Mas não precisamos, ou não
deveriamos, ter de desistir da nossa privacidade para
conseguir isso.


Podemos usar serviços criptografados como o Signal.
Algo importante para ter em mente é que a compra e
venda de dados pessoais faz parte de um modelo de
negócios. A tecnologia em si não precisa disso para
funcionar.


A sra. argumenta que não é tarde demais para
recuperar nossa privacidade. Mas não parece um tanto
quixotesco a essa altura? Não mais quixotesco do que
acabar com o trabalho infantil, conseguir o sufrágio
universal ou implementar os turnos de oito horas com
fins de semana livres, feriados pagos, e licenças-
maternidade e paternidade.

A história dos direitos é a percepção progressiva de que
os seres humanos não são recursos a serem
explorados segundo o desejo de alguém. Temos
necessidades e demandas que deveríam limitar o que
os outros demandam de nós.

Para consertar o ambiente digital, precisamos acabar
com a economia dos dados. Os dados pessoais
simplesmente não são o tipo de coisa que deveria ser
comprada e vendida. Isso cria incentivos ruins e tem
consequências tóxicas.

Asra. escreve: "Se damos nossos dados para os
governos, acabaremos com alguma forma de
autoritarismo. Apenas se as pessoas guardarem seu
dados a sociedade será livre". Já perdemos nossa
liberdade? Parte dela sim. Algumas pessoas perderam
mais liberdade do que as outras. Mas todos nós
podemos perder muito mais. A arquitetura da vigilância
que estamos construindo poderia ser o andaime de um
regime autoritário quase invencível.

Quão conectados estão o governo americano e as
empresas de tecnologia?

Como elas auxiliam no trabalho de vigilância dos órgãos
públicos? Muito. Algumas empresas têm laços mais
próximos dos que outras. Um laço particularmente
preocupante é o entre a Palantir e o governo americano.
A Palantir é uma empresa que ajudou a NSA a
implementar seu programa de vigilância em massa e
agora está envolvida com outras agências do governo,
como o Centro para Controle de Doenças, por causa da
pandemia. Desde o comecinho, a vigilância na era
digital tem sido um empreendimento público-privado.
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