Clipping Banco Central (2020-01-11)

(Antfer) #1

Relação comercial crescente com a China exige estratégia mais sólida


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Há quem não goste da China em Brasília. Indiferentes
às inclinações ideológicas do governo Jair Bolsonaro, os
chineses fortalecem sua posição como maior parceiro
comercial brasileiro. Enquanto caíram, no ano passado,
as exportações para Estados Unidos, União Européia e
América do Sul, cresceram 7,3% as destinadas à China.
A participação chinesa nas vendas externas do Brasil
subiu quatro pontos percentuais de 2019 a 2020, de
29,4% para 33,4%.


Tal resultado basta para demonstrar o erro crasso do
Itamaraty sob Ernesto Araújo, hostil a um cliente dessa
magnitude por puro dogmatismo ideológico. Como
sempre demonstrou a diplomacia profissional brasileira,
hoje escanteada na política externa, manter canais de
diálogo desobstruídos com a China não significa
concordar com a ditadura de Xi Jinping, com seu regime
de partido único ou com as arbitrariedades cometidas
contraaimprensaem Hong Kong ou os uigures em
Xinjiang. É apenas questão de bom senso.


Nem se trata de o Brasil se resignar ao papel de
fornecedor de alimentos e matérias-primas. O ponto é
outro. As vantagens comparativas brasileiras no


mercado mundial de commodities agrícolas precisam
ser usadas e ampliadas para abastecer qualquer
mercado importador, entre eles a China, potência com
população de 1,3 bilhão, cuja renda média tem subido
sem parar.

Se as exportações do agronegócio brasileiro chegaram
perto de US$ 1 trilhão entre 2011 e 2020, é a China que
estáportrás desse resultado. Só na soja, ela ficou com
84% das 526 milhões de toneladas vendidas pelo Brasil
nesses dez anos. Os chineses também são fortes
importadores de carnes. Há pouco, uma peste suína
dizimou a criação na China, que passou a importar
carne de fornecedores como o Brasil. É sobretudo a
ascensão chinesa que explica, em grande medida, por
que o Brasil acumulou reservas externas que se
mantêm acima de US$ 300 bilhões.

É, portanto, estratégica a relevância dos chineses para
a saúde da economia brasileira. Claro que não deve
interessar ao Brasil ser tão dependente de um único
parceiro comercial. O melhor é sempre diversificar a
pauta de exportações, com a ampliação do leque de
parceiros. Mas a conexão entre Brasil e China no
agronegócio justificaria uma aproximação diplomática
maior.

Apesar disso, da telefonia celular de quinta geração
(5G) às vacinas, Bolsonaro e o círculo ideológico que
dita as regras da diplomacia brasileira preferem fazer
pouco dos chineses, talvez para receber aplausos nas
redes sociais. Caberiaao Itamaraty criar uma estratégia
diplomática consistente para todo o continente asiático
que, sem abrir mão de valores como democracia e
direitos humanos, contribuísse para ampfiar as
oportunidades de negócio.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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