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Perigo nuclear


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Correio Braziliense/Nacional - Opinião
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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As tensões no Golfo Pérsico, região vital para o
abastecimento de petróleo ao Ocidente, aumentaram
com a decisão do Irã de elevar para 20% o grau de
enriquecimento de urânio em suas centrais nucleares. O
beneficiamento do mineral a este nível não é suficiente
para o desenvolvimento de uma bomba atômica (para
ser usado em um artefato nuclear, o mineral precisa de
90% de enriquecimento), mas provocou reações
imediatas dos Estados Unidos e de Israel. O premier
israelense, Benjamin Netanyahu, chegou a dizer que o
governo autocrático iraniano quer desenvolver armas
nucleares e que Israel nunca deixará isso acontecer -- o
Estado judeu bombardeou instalações nucleares do
Iraque na época do ditador Saddam Hussein.


A decisão do governo do Irã, comunicada à Agência
Internacional de Energia Atômica, causou apreensão na
comunidade internacional. Isso porque o país se afasta,
cada vez mais, dos compromissos assumidos no acordo
nuclear patrocinado pelo ex-presidente dos EUA Barack
Obama, em 2015. Outra medida que elevou a tensão no
golfo foi a tomada de um petroleiro sul-coreano por
barcos da Guarda Revolucionária, ocorrida em meio à
escalada militar na instável região. Os EUA reforçaram


seu poderio bélico local com o envio de mais soldados e
mais caças para a Arábia Saudita, além da permanência
do porta-aviões US Nimitz nas proximidades do mar
territorial do Irã.

O mundo, agora, deposita suas esperanças no
presidente eleito dos EUA, o democrata Joe Biden, que
deu sinais de que restabelecerá as tratativas relativas
ao acordo sobre o programa nuclear iraniano, rejeitado,
unilateralmente, pelo atual presidente, Donald Trump,
que deixa a Casa Branca na próxima semana. O pacto
foi firmado, depois de intrincadas negociações entre a
nação dos aiatolás, os EUA, França, Alemanha, Reino
Unido, Rússia e China. O tratado impedia que as
atividades nucleares do Irã fossem usadas para fins
militares. Em troca, as sanções econômicas impostas
pelos países ocidentais foram suspensas.

A questão é bem mais complexa do que parece à
primeira vista, não bastando a intenção de Biden de
retomar as conversas com o regime autocrático
iraniano. A começar pelo próprio presidente americano,
que já adiantou que os termos do atual acordo seriam
um marco inicial para as conversações. Analistas
entendem que o democrata quer colocar na mesa de
negociações o projeto de mísseis balísticos do Irã, que,
hipoteticamente, podem carregar uma ogiva nuclear. Os
aiatolás, por seu lado, não admitem mudanças nos
termos estipulados pelo acordo. E, certamente, pedirão
compensação financeira por causa das sanções.

O que o mundo espera é que prevaleça o bom senso e
que as partes cheguem a um consenso o quanto antes,
para que seja restabelecido o equilíbrio em região com
potencial de desencadear uma nova e terrível guerra.
Não se pode esquecer que Israel, apesar de não
assumir publicamente, tem capacidade para a
construção de bombas atômicas e teria em seus
arsenais, de acordo com especialistas, cerca de 80
artefatos nucleares prontos para serem usados.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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