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Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

social. Como toda boa startup, seus fundadores devem
se apaixonar pelo problema e não pela solução - e aqui
os problemas são os mais diversos possíveis.


Na perspectiva governamental, há pontos-chave que
precisam ser analisados -- e cabe aqui uma
comparação com o setor privado. No passado, as
grandes corporações tinham resistências em abrir sua
agenda de fornecedores aos empreendedores. Ao
perceberem que eles e suas empresas davam conta do
recado, com muito mais agilidade e com um custo
reduzido, muitos processos foram remodelados e a
cultura de inovação foi agregada, de uma forma ou de
outra, ao dia a dia das organizações. Mais do que isso,
as corporações começaram a se apropriar de startups
que geravam valor para seus negócios e para seus
clientes. Percebe-se o mesmo apetite no âmbito do
setor público, embora a maturidade ainda não atingiu
um nível de fazer negócios com empreendedores
digitais. Além das dificuldades em aberturas aos novos
negócios com startups, a mentalidade voltada à cultura
de inovação de grande parte dos gestores públicos está
no começo do jogo, uma vez que a máquina pública não
é preparada para inovação, já que inovar significa correr
risco. Nesse contexto, os órgãos de controle, que
compartilham da mesma mentalidade, precisam avançar
rumo à pavimentação desse caminho.


Apesar de ser uma rocha em processo de lapidação, o
poder público está direcionando esforços para ser um
divisor de águas nessa questão. O marco legal das
startups entrou no congresso com a missão de não
tratar somente de compras de inovação, mas também
fomentar o ecossistema de startups e investidores anjo.
Baseado no Projeto de Lei Complementar 249/20, a
proposta pretende simplificar a criação de empresas do
gênero e estimular o investimento em inovação. Isso já
significa um avanço para o mercado como um todo, pois
é o pontapé para amparar novos negócios, antes
apenas limitados às corporações. A nova lei de
licitações também prevê alguns avanços, por meio de
novas modalidades de contratações, que ajudarão a
impulsionar esse novo mundo de empresas da
economia digital e sua relação com o poder público.


Para ajudar ainda mais nesse processo, o setor privado
também tem responsabilidades por ser um motor que
viabiliza essa estrada para que as GovTechs - e todos
os empreendedores digitais trilhem rumo à
disponibilização de tecnologia para os cidadãos. As
grandes empresas de tecnologia, que hoje têm órgãos
governamentais e empresas públicas dentre seus
principais clientes, precisam apoiar as GovTechs nessa
relação com o Governo, por já terem uma estrada
pavimentada, conhecimento e conexões que ajudarão
empreendedores a fornecerem suas soluções, em um
modelo em que todos os lados ganham.

Se as startups têm o fator de aceleração a seu favor, o
setor privado tem conhecimento e musculatura para
lidar com governo. Em todo esse quebra-cabeça, a
teoria de múltiplos fluxos de John W. Kingdon é um
apoio que viabiliza essa jogada estratégica que
beneficia a população. Ela conta que o avanço das
políticas públicas são produtos da convergência de um
momento específico (janela de oportunidades) que é
fomentada pela ação de um empreendedor de políticas
públicas, motivado por um fluxo de problemas, soluções
e forças políticas organizadas. Ou seja: governos,
apoiados por inovação de GovTechs e amparados por
programas de aceleração e habilitação do setor privado,
geram oportunidades e soluções inovadoras para
problemas antigos. Diante dessa fórmula mágica, e que
pode ser real, fica a reflexão: nesse jogo, onde todos
ganham, não importa de que lado você está, mas você
tem que jogar.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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