Clipping Banco Central (2020-01-11)

(Antfer) #1

CARLOS PEREIRA - Não consegue ou não sabe governar?


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: CARLOS PEREIRA


O presidente Jair Bolsonaro parece ter "jogado a toalha"
ao se referir às dificuldades econômicas que o Brasil
tem enfrentado e afirmar, de forma peremptória: "o
Brasil está quebrado... Eu não consigo fazer nada".


Discursos de vitimização, de impotência governativa ou
de transferência de responsabilidade para outros
Poderes sob o argumento de que o governo estaria
impedido de governar não são novidade em regimes
democráticos e muito menos em sistemas
presidencialistas multipartidários, como o brasileiro.


Um exemplo extremo é o do ex-presidente Getúlio
Vargas que, em carta-testamento, invocou "as forças e
os interesses contra o povo" para justificar seu suicídio
em meio a uma grave crise política de seu governo
minoritário, agravada após o atentado perpetrado contra
o principal líder da oposição, o jornalista Carlos
Lacerda.


De forma similar, em sua carta de renúncia à
Presidência, o ex-presidente Jânio Quadros argumentou


que estaria sendo impedido de governar por "forças
ocultas". Ele desprezou as regras do jogo político, não
negociou com os partidos e tentou governar apesar do
Legislativo. O descaso de Jânio com o Congresso
Nacional era patente.

O ex-presidente José Sarney também reclamou
veementemente da suposta dificuldade de se governar
o Brasil ao afirmar que "a Constituição de 1988 tornou o
País ingovernável". Chegou a aconselhar o então
presidente eleito Fernando Collor que "não se governa
sem apoio político". "Nós tentamos tudo,
experimentamos de tudo. O que faltou foi apoio político.
O problema do País não é econômico, é político",
vaticinou Sarney.

Parece que o ex-presidente Collor não deu ouvidos aos
conselhos de seu antecessor. Recentemente
reconheceu que o principal equívoco de seu governo
"foi não ter construído uma base parlamentar de apoio
que concedesse a solidariedade do Congresso ao
presidente da República em um momento de
necessidade". Para Collor, "governo sem base sólida
não dura", pois considera que "o presidencialismo de
coalizão traz no seu bojo a incerteza e o vírus da
ingovernabilidade".

O que há de comum em todos esses reclamos de
presidentes em relação ao sistema político brasileiro?

Todos esses presidentes escolheram governar na
condição de minoria ou tiveram grande dificuldade de
construir e de gerenciar de forma sustentável coalizões
majoritárias.

Não entenderam que no presidencialismo multipartidário
o presidente é o agente central, uma espécie de CEO
do jogo político. Suas escolhas acarretam
consequências, a despeito das instituições. Não existe
"piloto automático" para se alcançar a governabilidade.
As decisões e estilo de gerência do presidente são
essenciais. Sem esse CEO coordenando os partidos de
sua coalizão, as maiorias legislativas, quando formadas,
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