Clipping Banco Central (2020-01-11)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Direto da Fonte
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

é uma das universidades mais importantes do mundo.
Sou a primeira brasileira negra a participar desse
evento, como oradora principal. Vou falar sobre a minha
trajetória, como a dança entrou na minha vida, como eu
vim para os Estados Unidos, como me tornei a primeira
bailarina de uma das companhias de dança mais
importantes do mundo e sobre meus dois projetos
EmpowHerNY e BlacksInBallet.


O que são esses projetos?


O EmpowHerNY é uma plataforma para mulheres que
agora completa três anos, para que nós tenhamos um
ambiente seguro parar compartilhar histórias em uma
zona livre de julgamentos, encorajando o diálogo em um
termo empático. Não vejo a hora dessa pandemia
acabar para juntarmos a mulherada. Outro é o
BlackslnBallet que criamos depois do Black Lives
Matter.


Como essa iniciativa surgiu?


Eu juntamente com os bailarinos Fabio Mariano e Juan
Galdino olhamos para o nosso ambiente de trabalho e
percebemos que, além de elitista, não promove
inclusão. A maioria das companhias só tem um ou dois
bailarinos negros. Isso não é inclusão. É importante ter
um palco que reflita o mundo. Todos nos somos seres
únicos.


A ideia é que bailarinos negros do mundo todo se vejam
e possam pesquisar histórias, porque passamos por um
processo de invisibilidade muito grande na dança. Eu,
por exemplo, só fui conhecer sobre Mercedes Baptista
quando eu já estava em NY. E ela foi um grande nome
no Brasil.


Você é um desses nomes?


Sou uma das pessoas que inspira no balé clássico. Mas
eu não sou a única e quero abrir a porta para mais
bailarinas que também têm história. Muitas meninas que
têm um talento promissor estão vendo essa plataforma
como um meio de crescer. A ideia é que a gente saia do
mundo digital e dê bolsas de estudos, além de abrir o


primeiro festival de dança de bailarinos negros no Brasil.
É importante falar sobre isso em Harvard.

Será a primeira bailarina brasileira negra a ser
palestrante neste evento?

Sim. Vou estar representando a mulher negra latina e
brasileira. Nós brasileiros não somos vistos como latinos
aqui. Para eles, latino é só quem fala espanhol. Eu
tenho orgulho de ser mulher negra, latina, brasileira,
tudo junto e misturado. Estou muito empolgada.

A questão racial, assim como outras pautas identitárias,
está presente no debate público no Brasil e nos EUA.
Como você vê esses movimentos? Está esperançosa
com mudanças? Participei das passeatas do Black
Lives Matter nos EUA. Foi a primeira vez que eu fui e
acho que foi de uma potência enorme. Eu não estava
apenas marchando por mim, mas pelo futuro da minha
filha. Infelizmente, eu não estou vendo mudanças
radicais, mas coisas mínimas. Fomos para ruas,
fizemos barulho nas redes sociais. E mesmo assim eu
sinto não há empatia e as pessoas não buscam
conhecimento porque não viveram essas experiências
de discriminação.

Qual seria o caminho?

Elas se sentem perdidas em como perguntar, em como
estudar, em como se interessar a entender e se
responsabilizar. Porque todos nós somos responsáveis
por essa mudança. Se não buscarmos o conhecimento
essa futura geração vai perpetuar o mesmo erro.
Precisamos de uma mudança radical.

Como avalia a mudança de governo norte-americano?

Estou esperançosa com esse novo presidente, e vamos
ter também uma mulher negra como vice-presidente. Eu
sempre percebi que os EUA cultivavam uma rejeição
em ter uma mulher como presidente, são muito
conservadores. Finalmente começamos a colocar o
trem no trilho certo. Não vejo a hora dele tomar posse e
ver as melhorias que vai fazer, não só para os
americanos mas para nós, imigrantes, também. Saímos
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