Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Vivendo como se não houvesse Bolsonaro


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Poder
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Conrado Hübner Mendes


Nunca diga que a democracia e a liberdade não correm
risco se um defensor da ditadura, da tortura e da morte
de dissidentes for eleito presidente. Soou inapropriado e
mal informado em 2018. Soou mais inusitado no final de



  1. Melhor teria sido suspender o juízo por um tempo
    e esperar os fatos. Ou desconversar se, por princípio ou
    prudência, sua condição institucional recomenda
    discrição.


Entre os profetas da democracia risco zero, aqueles
comentaristas políticos que correram para nos acalmar
diante da chegada de Jair Bolsonaro à Presidência, Luís
Roberto Barroso é o mais curioso.


Fala de dentro das instituições e, desse lugar, não se
considera comentarista. "Sou um juiz e por dever de
ofício sou juiz imparcial Minha lógica não é de apoiador
ou opositor. Minha lógica é de certo ou errado, justo ou
injusto, legítimo ou ilegítimo.'' Para dar conta desse
ônus ético, riscou uma linha na areia para medir o que
falar: "Não falo do varejo político, minha análise é
puramente institucional.'' Barroso, também professor,


transita com desenvoltura pelo meio acadêmico
nacional e internacional. No começo de 2019, por
exemplo, numa universidade em Nova York, disse que
Bolsonaro era um conservador, não autoritário, e
críticas eram "choro de perdedor" que desconhece o
jogo da alternância democrática.

Nesses dois anos, Barroso distribuiu gratuitamente
pílulas tranquilizantes: "Na objetividade da vida, não há
abalo às instituições. É preciso distinguir crise
institucional de insatisfação política." "Para além da
retórica, não aconteceu nada que comprometesse a
democracia.'' "Não vejo qualquer germe golpista em
parte alguma. A fricção entre os Poderes é própria da
democracia.'' Foi assim, desqualificando críticos como
ignorantes ou maus perdedores, que confundem "risco
democrático com déficit das instituições" e fazendo
pouco caso da ciência política, que desfilou seu
impressionismo ilustrado. Continuou vivendo e
respirando "como se" Bolsonaro fosse a mistura de
Sarney com Temer e pitadas de Collor. Desbolsonariza
Bolsonaro o quanto pode.

Semanas atrás, em evento da Universidade Livre de
Berlim, insistiu que seu negócio não é o varejo. Da
pureza de sua câmara hiperbárica de análise de
instituições, constatou que "até aqui elas funcionaram
de maneira irrepreensível" Ao elogiar as Forças
Armadas como instituição de Estado que não se suja
com política, chocou: "Se alguém pagou caro pelo
regime militar foram os próprios militares/E você
pensava que, com a anistia, tinha ficado barato.

E continuou: "O Congresso combateu medidas
provisórias. Não me sinto ameaçado na capacidade de
fazer cumprir as minhas decisões. Quando 0 STF
decidiu, as decisões foram cumpridas.'' Sim, decisões
do STF foram cumpridas. Exceto aquelas que não foram
cumpridas. Ou exceto quando o STF, preventivamente,
engavetou. Ou nem tirou da gaveta para não acirrar os
ânimos.

O STF tomou decisões relevantes que desagradaram
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