Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Quem sabe faz a hora


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Saúde
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ilona Szabó de Carvalho


Vamos continuar sentados assistindo ao desmonte das
instituições?


O perigoso desfecho da era Trump nos Estados Unidos
traz lições que o Brasil não pode ignorar. A invasão do
Capitólio no dia 6 de janeiro, data da confirmação da
eleição presidencial americana pelo Congresso, pode
ter chocado o mundo, mas não foi nenhum acaso ou
surpresa. Apoiadores radicalizados foram protestar em
Washington DC, respondendo à convocação do próprio
presidente, que os incita há tempos sob alegações
infundadas de que as eleições foram fraudadas.


A essa altura, todos sabemos que qualquer semelhança
com os atos no Brasil pelo fechamento do Congresso e
do STF e os irresponsáveis questionamentos sobre a
segurança das urnas eleitorais por Jair Bolsonaro não
são mera coincidência. A menos que os líderes
moderados do país formem já uma frente unida para
fortalecer nossas instituições democráticas, o Brasil
corre o risco de um colapso muito mais perigoso do que
os dramáticos eventos em Washington na semana


passada.

As condições para um grave retrocesso democrático no
país estão criadas: um líder que desdenha da
democracia, da imprensa independente e da sociedade
civil, um grupo de partidários extremistas e armados
â?"empenhados em resistir violentamente a seus
"inimigos"â?" e a base leal de apoio ao presidente no
aparato de repressão do Estado, em especial em
segmentos das polícias e das Forças Armadas. Para
piorar as coisas, temos um sistema de freios e
contrapesos mais fraco do que outras democracias para
evitar que a nossa caia no abismo.

Ao cobrar ações contundentes de atores políticos de
diferentes matizes ideológicas, escutei em ocasiões
distintas recentes que o tempo da sociedade é diferente
do tempo da política, e que as condições para o fim da
era Bolsonaro não estavam dadas. Mas será que isso
não mudaria caso a prioridade que dão ao cálculo
eleitoral fosse colocada atrás, e não à frente, do
interesse público? Dessa forma, os tempos da política
não se aproximariam do tempo real das necessidades e
angústias da sociedade?

A disputa para a presidência da Câmara no Brasil é o
fato atual mais consequente para a resistência
democrática. Se o candidato governista for vitorioso,
perderemos uma batalha fundamental. Se ele perder,
tampouco temos a garantia de que as condições para
que se interrompa a barbárie se darão sem pressão. A
elite política está rachada, e parte dela ainda não está
convencida â?"seja por dogmas perigosos ou por
conveniênciaâ?", de que o governo Bolsonaro é uma
real ameaça ao país. Além do centrão, a oposição
também está dividida e isso só favorece o projeto
autoritário e iliberal em curso.

A parcela da elite financeira que ainda acredita em
milagres e sustenta o desgoverno de plantão também
precisa cair na real. Não pode mais se abster de se
posicionar contra a destruição ambiental, econômica,
social e da reputação do Brasil. E, dado o que está em
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