Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Autoritarismo necessário


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Saúde
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Atila Iamarino


O ano de 2021 começou frenético. O Brasil voltou a
registrar mais de mil mortes diárias por Covid, enquanto
o Capitólio dos EUA foi invadido por terroristas. Lá, a
comoção foi tão grande que duas redes sociais,
Facebook e Twitter, bloquearam o presidente â?"talvez
o único cala boca que já levou. Isso foi fundamental
para que parasse de incitar mais ataques por seus
seguidores fanáticos. E pode ser a solução para uma
vacinação mais abrangente no Brasil.


No livro "The Misinformation Age", os filósofos da
ciência Cailin OConnor e James Weatherall detalham
estudos sobre a dinâmica de informação falsa e
demonstram como fake news e desinformação não vão
embora sem a escolha consciente de barrar algumas
ideias do debate público.


A cloroquina, por exemplo. Outros países começaram
testes clínicos assim que resultados positivos do uso de
cloroquina para tratar Covid foram sugeridos. Na
Suécia, os testes foram abandonados pois avaliaram
que o risco de problemas cardíacos não compensava


possíveis benefícios. Em outros países, os testes
demonstraram que cloroquina não funciona. Questão
resolvida. Mas não aqui. No Brasil, investimos milhões
que fazem muita falta em comprimidos de cloroquina
que não tratam Covid. E a política de saúde nacional
substituiu distanciamento e máscara para evitar o vírus,
que ainda não são recomendados pelo Ministério da
Saúde, por "se exponha e faça tratamento precoce".
Informação errada que mata.

Como o levantamento "Political (self) Isolation" mostrou,
o Brasil é o último país onde notícias falsas sobre
tratamento com cloroquina circulam, pois não é uma
questão científica, é uma questão partidária cooptada
como identidade de grupo. Se quem é de direita toma
cloroquina, e quem não toma? Como os filósofos
discutem, nessa situação a informação falsa não para.
Mesmo se especialistas demonstrarem que ela não
funciona, o que já fizeram, quem assimilou tratamento
precoce como algo identitário deixa de acreditar em
quem contesta isso antes de abrir mão da crença.
Também não faltam "especialistas" que apoiam a causa
para participar do grupo, e as redes sociais mantêm a
chama dessa propaganda falsa acesa.

Agora que temos vacinas contra a Covid, esse dilema
continuará matando, já que dependemos da maioria da
população ser vacinada e o movimento negacionista
antivacina é feito por quem leva ignorância para muita
gente. Temos muitas discussões importantes, como
sobre vacinar crianças, já que não participaram dos
testes. Agora, se alguém terá seu DNA alterado ou
ganhará um chip 5G depois de ser vacinado, não é uma
pergunta válida. Mas cientistas, profissionais de saúde e
divulgadores científicos podem fazer o estardalhaço que
for que não corrigirão isso. Se a informação falsa sobre
vacinas não for barrada na imprensa e em redes
sociais, só uma vacinação compulsória chegaria em
proporções suficientes. Um apelo autoritário, de uma
forma ou de outra.

Chegamos no mesmo impasse dos EUA, onde tiveram
que calar o presidente em redes sociais. Sem isso, um
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