Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Gestão, espiritualismo e modismos


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: KleberL. Celadon


A rápida expansão nas vendas de livros de auto-ajuda
tem sido acompanhada por um sem fim de publicações
na área de gestão empresarial.


Há casos em que não se distinguem facilmente uns dos
outros, e temas da atualidade, como inteligência
emocional, ou habilidades sociais - os "soft skills" - ,
aparecem mesclados com ideias espiritualistas
arrebatadas de seus contextos originais e trazidas para
a realidade brasileira sem a devida tropicalização.


Os autores John Micklethwait e Adrian Wooldridge, da
revista The Economist, já haviam lançado luz sobre
essa problemática no livro intitulado "The Witch Doctors"
("Os Feiticeiros"), onde enfatizaram o papel dos gurus
da gestão empresarial nos casos de charlatanismo,
fazendo uma analogia ao que ocorre às vezes no
mundo espiritualista - e que pode acarretar prejuízos
bastantes significativos para os contratantes. Com o
crescimento das ofertas no mundo digital, e o
aparecimento desenfreado das ditas "autoridades", só
piora o caos já existente.


Um exemplo é o acrônimo V.U.C.A., emprestado do
inglês ("volatility", "uncertainty ", "complexity " and
"ambiguity") e criado no final dos anos 1980, que tem
rendido inúmeras publicações e servido de base para
outras siglas que vão tomando as prateleiras das
livrarias. Porém, observa se que não trazem de fato
nenhuma novidade além da rotulagem, pois essas
quatro dimensões ("volátil", "incerto", "complexo" e
"ambíguo") sempre foram motivo de preocupação para
o gestores, não passando, portanto, de um modismo
com pouca utilidade prática.

Além do mais, na sociedade brasileira, onde a
meritocracia anda muito prejudicada pelo racismo e pela
ignorância manifestada de outras formas, há ainda um
distanciamento muito grande dos países desenvolvidos,
o que torna patético, em muitos casos, querer aplicar
fórmulas para melhorar as habilidades sociais dentro da
empresa - em uma sociedade que figura entre as mais
violentas do planeta. É como se preocupar em colocar
flúor no fornecimento de água sem que a mesma tenha
sido previamente tratada.

Não há dúvida, no entanto, sobre as contribuições do
espiritualismo, de eficácia comprovada, como é o caso
da meditação - que possibilita um melhor desempenho
profissional, além de enriquecimento na qualidade de
vida. Porém, ao consultar um "guru", seja espiritualista
ou da gestão empresarial, há de se precaver contra as
ofertas alienantes que tem por base apenas
experiências de países mais estáveis, ou de
religiosidade diferente, e que certamente não se
encaixam na realidade brasileira.

É curioso notar que, no Brasil, uma nação de múltiplas
influências espiritualistas e carregado de casos
espetaculares de gestão exemplificados pelo
agronegócio, ainda haja a necessidade de se
importarem fórmulas prontas de outras fontes.

Ao consultar um "guru", seja espiritualista ou da gestão
empresarial, há de se precaver contra as ofertas
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