Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Saída da Ford do Brasil resulta da insistência em políticas erradas


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Ipea

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Protecionismo e subsídios jamais foram capazes de
trazer ao país áreas estratégicas das montadoras


Não há como considerar boa notícia o fechamento das
fábricas da Ford no Brasil, com a extinção de 5 mil dos
6,2 mil empregos gerados aqui. Mas é preciso entender
a decisão num contexto maior. Mais que resultado da
crise atual ou de erros cometidos pelo governo Jair
Bolsonaro, ela deriva da visão equivocada que todo
governo brasileiro sempre teve em relação às
montadoras, desde pelo menos Juscelino Kubitschek:
conceder proteção, agrados e subsídios para que elas
construam fábricas aqui.


Só para a Ford, estima-se que tenham sido concedidos
US$20 bilhões ao longo dos anos. A indústria
automotiva é de longe a mais protegida do país. Um
estudo do Ipea revela que a tarifa efetiva sobre
automóveis era da ordem de 200% até 2010, quando
havia mais de 20 montadoras por aqui (depois caiu a
"apenas" 90%). Mesmo assim, o setor já apresentava
dificuldades para competir com veículos importados da
China, do Japão ou da Coréia do Sul.


Quando o governo Dilma criou o programa Inovar-Auto,
o objetivo era ampliar a eficiência com novas
tecnologias. O resultado da proteção concedida à
produção local foi o oposto: fábricas operando a 50% da
capacidade só para fazer jus a subsídios - e um enorme
custo de oportunidade com capital alocado nelas, em
vez de irrigar negócios mais produtivos.

Depois de julgado ilegal pela OMC, o Inovar-Auto foi
enxugado e deu origem ao Rota 2030, outro festival de
subsídio e proteção aprovado a toque de caixa em
2018, sancionado no governo Temer e em vigor até
hoje. O objetivo desses programas, trazer ao Brasil o
desenvolvimento das montadoras, jamais foi alcançado.
Tanto que Mercedes e Ford não hesitam na hora de ir
embora.

A política industrial que favorece a indústria automotiva
só é mantida graças ao lobby poderoso que as
montadoras sempre exerceram em Brasília. Os bilhões
do governo destinados a proteger o setor tiram recursos
de áreas bem mais importantes, como educação,
saúde, infraestruturaou saneamento.

O conforto de saber contar com novos subsídios quando
necessário sempre contribuiu para que as montadoras
fossem coniventes com a estrutura de impostos
distorcida, que faz do governo um sócio oculto na
produção local - e contribui para tomar o carro brasileiro
um dos mais caros do mundo. A reforma tributária que
beneficiaria o setor como um todo vive sendo adiada.

É por isso que, na hora do aperto, a Ford escolhe
manter suas linhas de produção em países de estrutura
tributária menos perversa, como Uruguai ou Argentina.
Eis o resultado da visão desenvolvimentista que prioriza
o "conteúdo nacional", a "produção local" e outros seres
mitológicos, em detrimento de educação, conhecimento,
tecnologia e produtividade.

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Ipea, Cenário Político-Econômico - Colunistas
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