Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

MERVAL PEREIRA - É a História, general


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Ao afirmar que a vacinação acontecerá no dia D e na
hora H, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello,
demonstra que não tem a menor condição de estar à
frente de um ministério civil. Pareceu um deboche, mas
pode ter sido apenas uma frase típica de quartel. Só
que ele não está lá, embora seja um general da ativa,
está no Ministério da Saúde, um posto civil, e tem que
saber se comunicar de maneira que as pessoas
entendam.


Não adianta usar chavões militares para dizer que dará
a vacina na hora certa, no tempo certo. Além do que,
esse "tempo certo" já passou, tanto que o mundo inteiro
já está se vacinando. Nosso dia D deveria ter sido há
muito tempo. Quando ele definir o dia D do Brasil,
estaremos muitos mil mortos à frente, com a sociedade
paralisada pelo medo, com a economia devastada.


E uma situação que a cada dia demonstra que o
governo brasileiro não sabe governar, só sabe
conversar com o povo para dar orientações incorretas,
populismo que é especialidade de Bolsonaro.


O ministro da Saúde está nervoso porque perdeu o


controle da situação, não azeitou uma máquina de
vacinação que historicamente produziu efeitos. Não se
deu conta de que a principal tarefa dele é montar a
logística da operação nacional de vacinação, o que
poderia ser relativamente fácil, porque já temos uma
estrutura importante. Mas, para uma pandemia, com a
exigência de duas doses para uma imunização
individual efetiva, é preciso um trabalho coordenado
com estados e municípios, e ele quer concentrar tudo.

O ministro também demonstra ignorância histórica sobre
o papel da imprensa, que nasceu para controlar os
governos, para dar voz aos que não a tinham em
governos absolutistas e autoritários. Recentemente, ele
afirmou que ninguém delegou à imprensa a tarefa de
analisar e criticar o governo. Está muito enganado. O
papel da imprensa é ser o "cão de guarda" da
sociedade, segundo definição clássicado presidente dos
Estados Unidos Thomas Jefferson, que dizia que, para
cumprir essa missão, a imprensa deve ter liberdade
para criticar e condenar, desmascarar e antagonizar.
Parodiando a famosa frase de James Carville,
marqueteiro de Bill Clinton na campanha presidencial
que o elegeu na sucessão de Bush pai, "é a História,
estúpido". Não precisa o general Pazuello delegar, nem
o capitão Bolsonaro permitir. Já está delegado pela
sociedade, historicamente. Por isso ele se irrita, porque
a imprensa critica quando o governo falha; e, como este
governo falha constantemente, a imprensa tem sido
muito crítica.

É justamente essa a atribuição da imprensa, fazer com
que a nação conheça os projetos do Estado e possa
debatê-los. Ou descubra o que está sendo tramado nos
bastidores palacianos e denuncie. O surgimento da
"opinião pública" está ligado ao Estado moderno, que
pressupõe transparência do poder público, e não
manobras subreptícias que, se precisam da escuridão
para ser efetivadas, é porque beneficiam algum setor, e
não a sociedade. No sistema democrático, a
representação é fundamental e depende da informação.

"Uma nação conversando consigo mesma" é a definição
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