Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

ZUENIR VENTU - Tempos estranhos


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Só agora, com o início das obras de restauração do
Cristo Redentor, é que me dei conta de que temos a
mesma idade - somos, ele e eu, de 1931. As
semelhanças, infelizmente, param por aí. O Cristo está
mais bem conservado e, com a reforma, vai ficar
novinho em folha para continuar de braços abertos
sobre a Guanabara. Se antes ele já tinha sido eleito
informalmente como uma das Sete Maravilhas do
Mundo, imagina quando for recauchutado.


Ele, não sei, não perguntei, mas, de minha parte, não
me lembro de ter vivido tempos mais estranhos - e olha
que "vivi" o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de
Jânio Quadros, a deposição de Jango, a ditadura militar,
a redemocratização etc. O problema é que agora foram
reunidas todas as crises de uma vez só, a começar pela
pandemia - política, econômica, ambiental, ética.


Pessoalmente, não tenho do que me queixar. Enquanto
mais de 200 mil brasileiros já foram impiedosamente
exterminados pelo coronavírus, eu cheguei são e salvo
a 2021, claro que em quarentena absoluta. O que que
eu quero mais? Queria, por exemplo, que não houvesse
uma mesquinha guerra pela vacina. A politização atingiu


tal nível que o presidente chegou a ameaçar: "O povo
brasileiro não será cobaia da vacina chinesa de João
Doria".

Desde pequeno, uma de minhas rotinas anuais era me
vacinar. Foi assim, com uma picadinha no braço, que
me livrei de poliomielite, coqueluche, varíola, catapora,
entre outras doenças cujos nomes nem me lembro
mais. Não há razão para explicar por que, apesar desse
passado histórico, com um centenário instituto como o
Butantan, com uma vacina dentro dos padrões da OMS,
como a CononaVac, o governo demore tanto a iniciar o
processo de imunização?

Enquanto isso, como se as milhares de mortes pela
pandemia não fossem suficientes, a Polícia Federal
expediu um recorde de 180 mil registros de armas de
fogo em 2020, que servem, como se sabe, para produzir
mortes, não para evitá-las.

Tempos estranhos. Por isso, por essa preferência,
Bolsonaro, que já declarou querer uma pátria armada, é
também conhecido como "BolsoNero".

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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