Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Já deu , Ernesto!


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: OLIVER STUENKEL


Em 20 de janeiro, quando Joe Biden tomar posse como
469 presidente dos EUA, Jair Bolsonaro perderá o único
aliado internacional relevante que lhe restava, deixando
o Brasil ainda mais isolado. Desde que Bolsonaro
assumiu a Presidência, o Brasil já sofreu um desgaste
na reputação e uma perda de influência internacional
inéditos, produzindo crises nas relações bilaterais com a
Argentina, a China, a França e a Alemanha, parceiros
estratégicos tradicionais e mercados de grande
importância para produtos brasileiros. Mesmo assim, o
cenário internacional dos últimos anos apresentava uma
vantagem para Bolsonaro : com Trump e suas políticas
desestabilizadoras absorvendo parte da atenção da
comunidade internacional, havia menos espaço para
uma reação mais coordenada à política antiambiental e
antimultilateral do governo brasileiro. Com Biden na
Casa Branca, a pressão internacional contra Bolsonaro
e o risco de boicotes contra produtos brasileiros
aumentarão de maneira significativa.


O Partido Democrata vai controlar a Casa Branca, a
Câmara e o Senado - e já tinha uma péssima imagem


do mandatário brasileiro. Desde a vitória democrata,
Bolsonaro e Ernesto Araújo conseguiram a façanha de
piorar a situação. Na ânsia de agradar à própria base,
os dois reforçaram a teoria conspiratória de fraude nas
eleições presidenciais dos EUA, efetivamente
questionando a legitimidade do governo Biden.

Em vez de articular uma estratégia sobre como o Brasil
deveria se adequar às mudanças produzidas pela
derrota de Trump, o assunto virou "tabu" no Itamaraty.
Araújo ainda causou revolta entre democratas e a
maioria dos republicanos ao chamar os invasores do
Capitólio de "cidadãos de bem". O comentário gerou a
impressão de que o chanceler brasileiro mostrava apoio
à tentativa de golpe e aos atos de terrorismo doméstico
nos Estados Unidos. Enquanto Araújo estiver no cargo,
será difícil evitar uma ruptura na relação com os EUA.

Substituir Araújo por um diplomata mais moderado
decerto teria um custo político para Bolsonaro. Afinal, o
isolamento do Brasil se deve não apenas às escolhas
do presidente no âmbito doméstico, mas à decisão,
tomada logo depois de sua eleição, de transformar o
ítamaraty numa plataforma para manter mobilizados
seus seguidores mais radicais. Ciente de que teria que
abrir mão do discurso anticorrupção e anti-velha política
em algum momento, utilizou a política externa, espaço
em que presidentes enfrentam menos restrições do que
no âmbito interno, para demonstrar aos seguidores
fanáticos que mantém seu compromisso com a ruptura
prometida.

O colapso da reputação do Brasil lá fora não foi,
portanto, resultado de um descuido, mas uma
consequência que Bolsonaro conscientemente aceitou
em troca de um benefício político concreto. Enquanto
celebra seu status de vilão global caricato e expressa
nostalgia pela ditadura, seu chanceler brada
orgulhosamente que "se falar em liberdade nos faz um
pária internacional, que sejamos um pária".

O cálculo político de Bolsonaro sempre foi que o custo
econômico causado pela sua política externa radical
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