Clipping Banco Central (2021-01-13)

(Antfer) #1

Sai a Ford, ficam os caros incentivos


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Sem grande surpresa, a Ford anunciou a decisão de
encerrar a produção de veículos no Brasil, com o
fechamento de fábricas em Taubaté (SP), Camaçari
(BA) e Horizonte (CE). Políticos lamentaram e
sindicalistas protestaram. Houve quem atribuísse a
decisão da empresa a falhas do governo e à sua baixa
credibilidade. Também houve quem chamasse a
atenção para o ambiente de negócios no Brasil,
marcado por problemas bem conhecidos, como
tributação disfuncional, insegurança jurídica, excessos
de burocracia e infraestrutura deficiente. Segundo o
presidente Jair Bolsonaro, a empresa queria mesmo
subsídios, embora nenhum de seus diretores tenha
mencionado essa questão. Pouco se falou, no entanto,
sobre o desempenho e sobre as condições de operação
da indústria automobilística no Brasil.


Segundo o Ministério da Economia, o fim da produção
da Ford no País é parte da estratégia global da
companhia. Fábricas foram fechadas em outras partes
do mundo, a atividade na América do Sul será
reorganizada e a lista de produtos principais deve
mudar. Novas tecnologias, novas normas ambientais,
novos tipos de veículos e novas condições mundiais de


concorrência impõem mudanças a toda a indústria de
veículos.

Além de responder a questões internas, a nova política
da Ford provavelmente leva em conta essas
transformações no ambiente empresarial. De toda
forma, o encerramento da produção de caminhões em
São Bernardo do Campo (SP), no ano passado, foi um
prenúncio de amplas mudanças. A decisão recém-
anunciada torna-se ainda menos surpreendente quando
se considera o desempenho da companhia, no Brasil,
nos últimos anos, com prejuízos acumulados desde
2013.

Em vez de lamentar o fim de atividades de mais uma
empresa, o governo deveria dar atenção ao
desempenho da indústria, nos últimos dez anos, e
examinar com cuidado a atividade do setor
automobilístico. Dificilmente se encontrará outro ramo
industrial tão favorecido pelo setor público. Entre 2009 e
2019 as fábricas de veícu- los ganharam incentivos
fiscais da ordem de R$ 30 bilhões.

Estímulos foram concedidos, sem interrupção, pelos
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff,
Michel Temer e Jair Bolsonaro. Em 15 de março de
2019, quando o atual governo nem havia completado
três meses, o secretário de Produtividade, Emprego e
Competitividade, Carlos da Costa, assegurou ao
EstadãoIBroadcast a continuidade dos subsídios ao
setor automotivo no Nordeste.

"Existe um regime especial, recentemente prorrogado,
que viabilizou investimentos não apenas da Ford, na
Bahia, mas também da Fiat-Chrysler, em Pernambuco,
por exemplo. As empresas que utilizam esse regime
contam com essas regras para a manutenção de seus
investimentos", disse o secretário. Poucos dias antes
ele e executivos da Ford haviam conversado sobre o
fechamento da fábrica de caminhões em São Bernardo
do Campo. Havia a esperança, aparen- temente, de
preservação da unidade na Bahia.
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