Viaje Mais - Edição 175 (2015-12)

(Antfer) #1

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simo percorrer os trajetos que re-
velam falésias vertiginosas, cidades
encantadoras, praias e fazendas
produtoras de queijo camembert.
Todas essas atrações deliciosas,
entretanto, estão em outra ponta
da Normandia: ao redor de Le Ha-
vre, a 220 km de Saint-Michel. A
partir do monte-ilhota, o ideal é
alugar um carro, pois, apesar de ha-
ver ônibus perfazendo o trajeto, é
preciso fazer baldeações e a viagem
acaba despendendo tempo demais.
Bom ponto para usar como ba-
se, Le Havre é um dos lugares da
Normandia mais marcados pelos
desdobramentos do Dia D, que mu-
dou completamente os rumos da
Segunda Guerra Mundial. No dia
da invasão aliada, em 6 de junho de
1944, bastaram dez minutos para

que o centro fosse quase todo des-
truído num bombardeio dos Aliados
na região até então dominada pelos
nazistas. Num esforço sem prece-
dentes, porém, exatos 20 anos de-
pois, em 1964, a cidade já estava
reconstruída. E sob um projeto ou-
sado – e superpolêmico – do arqui-
teto belga Auguste Perret. Na urbe
cortada pelo Sena (é lá que esse rio
tão associado a Paris deságua no
mar, em pleno Canal da Mancha),
Perret mesclou o jeitão antigo de Le
Havre com arquitetura e técnicas
urbanísticas modernas.
É por isso que muita gente es-
tranha a “falta de charme” local ao
chegar lá. Mas isso é só uma im-
pressão momentânea, já que, há
uma década, a Unesco chancelou
a cidade como Patrimônio da Hu-

manidade, e isso justamente por ela
ter renascido com tal combinação
inusitada. Ao entrelaçar esses estilos
diferentes, Le Havre também con -
trasta com a grandiosa paisagem
natural que a cerca, graças a shop-
pings modernos, como o Docks
Vauban (que ocupa antigos depó-
sitos do porto restaurados), um ci-
nema decorado pelo estilista Chris-
tian Lacroix e um spa e centro aquá-
tico, o Les Bains des Docks, proje-
tado pelo premiado arquiteto Jean
Nouvel. Também não faltam res-
taurantes estrelados, como o Jean-
-Luc Tartarin, dono de duas estrelas
no Guia Michelin.
A lista de atrações contempo-
râneas de peso se completa com
um centro cultural desenhado, veja
só, por Oscar Niemeyer. O brasi-
leiro o concebeu em 1982, evocan-
do as chaminés dos transatlânticos
a vapor que ocupavam o porto do
mu n icípio, mas a (mais uma vez)
polêmica obra foi batizada de Vol-
can, pelo formato de um vulcão.
Com o nome de tantos figurões
ligados aos principais points de Le
Havre, a arte é mesmo indissociável
da região. E isso não é de hoje.

Le Havre renasceu da guerra com
arquitetura moderna: à esq.,
a midiateca no C entro Cultural
Volcan (abaixo), projetado por
Niemeyer; mais abaixo, à esq., o
museu MuMa, de artte moderna

KLEINEFENN

/DIVULGAÇÃO

FOTOS

: M

ARI

CAMPOS
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