VIAJEMAIS
A música que Guadalupe can-
tava divinamente era o clássico Cie-
lito Lindo, que, no Brasil, todas as
torcidas parodiam nos estádios de
futebol: “Ai, ai, ai, ai. Está chegando
a hora. O dia já vem raiando, meu
bem, e eu tenho de ir embora”. E
eu estava justamente tomando mi-
nha última margaritano bar da pou-
sada Mesones Sacristia, na bela ci-
dade de Puebla, onde Guadalupe
Gomez se apresenta às terças. Dali
eu seguiria direto para o aeroporto,
mas foi naquele momento que tive
a certeza de que levaria comigo um
pouco do México, a começar pela
bagagem abarrotada de pimentas
compradas num supermercado.
Desculpe-me começar a repor-
tagem pelo fim, mas como eu po-
deria supor que o momento mais
emocionante ocorreria nos últimos
instantes da viagem? Para mim, a
música de Guadalupe ilustrava o
quão intenso é o banho de cultura
popular que se pode vivenciar no
país berço da civilização latino-ame-
ricana. Mas só pouca gente se dá
conta disso.
A maioria das pessoas vai para
lá sonhando com o mar azul-esver-
deado da costa caribenha. É com-
preensível: realmente, o litoral me-
xicano é um show. Mas a pátria de
Guadalupe Gomez vai muito além
dos resorts all inclusivede Cancún.
No coração do país, se não há praia,
sobram lindas cidades históricas, a
começar pela capital, a Cidade do
México, e por Puebla, a 150 km de
distância. Sem contar as ruínas as-
tecas impressionantes, como as pi-
râmides de Teotihuacán, e da au-
têntica tequila que combina com
tacose guacamole. Com a vantagem
extra dos preços em conta – ufa,
eis um país barato para os brasilei-
ros – e dos voos diretos do Brasil
para a Cidade do México.93