Aero Magazine - Edição 301 (2019-06)

(Antfer) #1
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Asdetecçõeseramintermitentese
simplesmentedesapareciamcom
a aproximaçãodocaçaaolocal
indicado.Apósmeiahoradevoo,
o capitãonotouumaluzvermelha
aolonge,a menoraltitudee pró-
ximaa SãoJosédosCampos.O
controladorconfirmoudetecção.
Jordãotentouchegarperto,
maso plotesumiudoradardesolo
e a luzapagoumomentosdepois.
Quaseimediatamente,eleviuduas
outrasluzes,umafixae outrapis-
cando,decorbranca,masconcluiu
seremosluzeirosprovenientesde
umaestaçãonosoloprovidade
algumaantenaaltaequipadacom
duaslâmpadasanticolisão.
No sul de São José dos
Campos, o aviador adentrou uma
zona mais sujeita a detecções de
plotes, e o radar de bordo passou
a apresentar uma série de riscos
no escope, conforme informou
ao controlador: “Na tela do radar
aparecem uns riscos tarjados assim,
meio em diagonal. Não é normal,
assim”. O problema persistiu até o

avião sair daquela zona.
Pouco depois, conforme con-
signou em parte lavrada em Santa
Cruz no dia 28 de maio de 1986,
Jordão avistou uma luz vermelha
na linha do horizonte, no sentido
do mar. Comunicou à Defesa
Aérea e o controlador confirmou
o contato, instruindo-o a tentar a
interceptação, o que foi feito sem
sucesso. Por estar com o com-
bustível começando a escassear,
Jordão retornou para Santa Cruz,
pousando à 0h05 de 20 de maio.
Ao todo, a aventura durou 75
minutos, das 22h50 à 0h05.

OBJETO INTELIGENTE
O quarto caça, um Mirage F-103
com codinome Jaguar 98, decolou
da BAAN às 23h17, pilotado pelo
Capitão aviador Rodolfo da Silva
Souza (1954). Souza foi guiado
por um controlador do COpM 1
até as posições estimadas do alvo e
por diversas vezes chegou perto ou
mesmo passou pelo plote indicado
pelo radar do APP-AN. Curiosa-
mente, o contato duplo, do caça e
do óvni, era observado apenas pelo
APP-AN, jamais pelo COpM 1.
Após algumas tentativas
frustradas de interceptação, sem
nunca obter contato visual ou pelo
radar de bordo, o aviador comen-
tou com o controlador: “Eh... com
certeza, se for um alvo real, ele não
tá iluminado, ok? Tá... tá escuro,
porque... eu tô praticamente visual
com o solo”.
Ciente disso, Souza apagou
as luzes de navegação do avião;
mesmo assim, uma nova tentativa
de interceptação não foi exitosa. O
caçador recebeu instruções para o
regresso. Após o pouso, ocorrido
à 0h07, Rodolfo da Silva Souza
perguntou aos mecânicos de pista

se haviam visto ou ouvido qual-
quer coisa diferente de um F-103
sobrevoando a base de Anápolis
ou as imediações. A resposta foi
negativa. Da decolagem à aterris-
sagem, o voo durou 50 minutos,
das 23h17 de 19 de maio até a
0h07 de 20 de maio.
O óvni demonstrava mano-
brar de maneira inteligente, evi-
tando o caça. Em certo momento,
o controlador percebeu o padrão
de fuga adotado e informou ao
caçador: “Ok, garoto, o plote está
sempre às suas 6 horas, ok? Quan-
do você faz curva, ele tá sempre
fazendo curva à sua frente, ele vem
pra cima de você, passa na sua
vertical em cima ou em baixo – nós
não temos condições de detectar
a altitude – e fica na sua cauda o
tempo todo. Quando você faz cur-
va, ele some da posição e aparece
sempre na sua frente”.

INTERCEPTAÇÃO E COLETIVA
O quinto e último caça, um
Mirage F-103 decolou da BAAN
às 23h36, pilotado pelo Capitão
aviador Júlio Cézar Rozenberg
(1954). Por três vezes, Rozenberg
foi deslocado para interceptar
um alvo que estava evoluindo nas
proximidades da BAAN. Chegou
a ficar à distância de 1 milha náu-
tica (1,85 km) do óvni, sem nun-
ca obter contato radar ou visual.
O voo durou ao todo 54 minutos,
das 23h36 de 19 de maio de 1986
à 0h30 do dia seguinte.
Após o retomo dos caças,
houve reunião com os pilotos e os
outros militares envolvidos no epi-
sódio para apuração dos fatos. As
gravações das comunicações e os
vídeos das telas dos radares foram
exaustivamente analisados nos
dias consecutivos. Ainda durante a

Tenente
brigadeiro do
ar Octávio
Júlio Moreira
Lima, então
ministro da
Aeronáutica

Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica

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