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A
pós mais de duas
décadas afastada do
setor aéreo, a Itape-
mirim prepara seu
retorno para meados
de março deste ano de 2021, desta
vez com nova estratégia. Dife-
rentemente da experiência dos
anos 1990, focada no transporte
de cargas, o grupo planeja agora
priorizar os passageiros, usando
o nome ITA Transportes Aéreos.
A intenção é complementar o
modelo multimodal da empresa,
que tem seu principal negócio no
setor rodoviário.
O retorno da Itapemirim ao
mercado de aviação acontece
em meio a impasses judiciais. A
Viação Itapemirim, que já foi uma
das maiores empresas do trans-
porte rodoviário interestadual de
passageiros do país – e ainda hoje
conta com 292 linhas de ônibus –,
enfrentou nos últimos anos uma
grave crise financeira e admi-
nistrativa. Com dificuldades de
manter suas operações, a empresa
se desfez de parte das linhas e da
frota, até ser adquirida por um
grupo de empresários liderado por
Sidnei Piva de Jesus, que iniciou
uma reestruturação interna.FAMÍLIA COLA
Um pedido de recuperação judi-
cial realizado em 2016, tecnica-
mente concluído em dezembro
de 2020, buscou dar um novo
fôlego ao gigante. Mas a crise não
se encerrou. Uma disputa entre a
família Cola, fundadora do grupo
Itapemirim, e o novo proprietário
da empresa ampliou as incertezas
em torno do conglomerado.
Dois meses antes de a Itapemi-
rim deixar a recuperação judicial,Camilo Cola e Camilo Cola
Filho entraram com uma série de
processos, incluindo acusações de
falsidade ideológica, contra o atual
dono do grupo. Entre as represen-
tações está a suposta existência
de ao menos quatro Cadastros de
Pessoa Física (CPF) da Receita
Federal em nome de Piva.
Os advogados da família
Cola afirmam que os titulares do
CPF teriam empresas no mesmo
endereço, em sociedade com uma
mesma pessoa, além de serem
representados pelos mesmos
advogados. Na ocasião das acusa-
ções, Sidnei Piva de Jesus atribuiu
a existência de dois números de
CPF vinculados a seu nome a um
erro dos Correios, que é responsá-
vel pela emissão do documento. A
defesa de Piva afirma que as ações
são uma tentativa de perseguição
e vingança, sendo caluniosas e
totalmente improcedentes.
A defesa do empresário tam-
bém alega que a família Cola pra-
ticamente faliu a Itapemirim, onde
uma auditoria interna encontrou
documentos indicando remessas
de dinheiro ao exterior, evasão de
divisas e indícios de desvio de re-
cursos. Do outro lado, a defesa da
família Cola sustenta que jamais
houve evasão de divisas, mas re-
conhece que um inquérito policial
está investigando as acusações,
sem até o momento apresentar
nenhuma prova nesse sentido.AIRBUS A320
Em um cenário de turbulência
interna, a Itapemirim anunciou
em meados de 2020, em plena
pandemia, os planos para criação
de uma empresa aérea. O projeto
ambicioso prevê um modelo denegócios com incremento nos
serviços de bordo, incluindo a
oferta de bebidas alcoólicas em
algumas rotas. Ainda que o setor
aéreo em todo o mundo acumule
perdas bilionárias sem preceden-
tes, que forçaram a redução da
malha e a aposentadoria prema-
tura de diversos aviões, Tiago
Senna, o presidente e CEO da
ITA Transportes Aéreos, acre-
dita que esse cenário represente
justamente uma oportunidade
para surgimento de uma empresa
aérea nova.
A paralisação de centenas de
aeronaves ao redor do mundo
tornou os contratos de leasing
bastante atrativos, com excesso de
oferta de aviões e pouca demanda,
favorecendo negociações mais
vantajosas para uma empresa que
pretende iniciar suas operações.
Paralelamente, existe uma grande
oferta de tripulantes no mercado
brasileiro, especialmente aqueles
que trabalhavam para a Avianca
Brasil.
A Itapemirim optou por
operar a família dos bimotores de
corredor único da Airbus, o A320,
que dispõe de maior oferta de mão
de obra já treinada. A empresa
chegou a cogitar o Boeing 737
NG, pelo maior número de aviões
retirados de serviço nos últimos
anos, mas desistiu diante da falta
de pilotos do modelo ociosos no
Brasil. Em uma análise detalha-
da, a Itapemirim constatou a
vantagem da escolha da família
Airbus no atual cenário, incluindo
condições de financiamento mais
competitivas em meio à pandemia
da covid-19.
A companhia planeja voar
com uma frota inicial de dez A320