National Geographic - Portugal (2021-02)

(Antfer) #1
AVESPA-ASIÁTICA 91

nha-fundadora e previne-se o nascimento dos
milhares de obreiras que a sua colónia vai ter.
O problema é que a gestão da situação da vespa-
-asiática tem sido muito diferente e a incapaci-
dade de compreensão e/ou implementação pelas
autoridades da captura preventiva de fundado-
ras na Primavera é um enigma, tendo em conta
que esta abordagem é advogada desde 2015. Não
creio que exista, desta forma, hipótese de elimi-
nar a vespa-asiática em Portugal.”

EMBORA OS VESPÍDEOS ADULTOS consumam
quase exclusivamente alimentos de origem vegetal
ricos em hidratos de carbono, as larvas precisam de
proteínas de origem animal para se desenvolverem.
E essas proteínas são fornecidas pelos adultos, sob
a forma de um puré constituído por invertebrados
e carcaças de todos os tipos. Entre esses invertebra-
dos destaca-se a abelha melífera (Apis mellifera),
uma presa fácil e superabundante para a vespa.
Por conseguinte, o vespídeo causa baixas signi-
ficativas entre os insectos autóctones, mas tam-
bém afecta as colheitas de fruta e cria mais uma
dificuldade para a apicultura, já afectada por di-
versos problemas. Pode haver mil obreiras opera-
cionais em cada vespeiro, gerando grande quan-
tidade de néctar. As vespas atacam furiosamente
as colmeias das regiões vizinhas. Esses ataques
causam baixas e provocam alterações comporta-
mentais na colmeia que podem até causar o co-
lapso de colónias inteiras.

identificada em certas zonas de Aragão. Esteve pre-
sente nas ilhas Baleares entre 2015 e 2018, mas con-
seguiram erradicá-la, e foi avistada na Extremadura
há uns anos, mas não voltaram a vê-la”, diz.
Em Setembro de 2011, dois investigadores por-
tugueses confirmaram em Viana do Castelo o que
também já se temia na comunidade de entomólo-
gos e apicultores portugueses: era uma questão de
tempo até a vespa-asiática ser detectada em terri-
tório português. José Manuel Grosso-Silva, cura-
dor das colecções entomológicas do Museu de
História Natural e da Ciência da Universidade do
Porto, e Miguel Maia, da Associação Apícola Entre
Minho e Lima, de Vila Nova de Cerveira, confir-
maram a presença deste insecto invasor em quatro
apiários do concelho minhoto, publicando a sua
descoberta na revista “Arquivos Entomolóxicos”,
no início do ano seguinte.
Nos anos posteriores, perdeu-se uma oportu-
nidade importante para conter a progressão da
espécie invasora. “Teria sido possível atrasar a
progressão da espécie se as autoridades tives-
sem investido na captura das rainhas fundado-
ras na Primavera, pois cada fundadora captura-
da equivale a uma futura colónia a menos”, diz
José Manuel Grosso-Silva. “Mata-se uma rai-


Nos ninhos de bútio-vespeiro, os investigadores
encontraram numerosos restos de vespeiros de
vespa-asiática. Tudo indica que o insecto seja
parte da dieta desta ave de rapina florestal.

ARTUR TABOR/NPL/CORDON PRESS

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