National Geographic - Portugal (2021-02)

(Antfer) #1
FEVEREIRO 2021

martelodegeólogoemriste,recolheamostrasde
rocha, auxiliada por uma aluna de bata surpreen-
dentemente branca, dado o entorno barrento e ba-
fiento. Entre investigadores seniores, pós-doutora-
dos e doutorandos, o grupo é constituído por mais
de uma dezena de cientistas, especializados em
diferentes áreas técnicas.

DAS SINUOSAS GALERIAS SUBTERRÂNEAS para os
compridos corredores universitários, a comunidade
científica vem sendo confrontada com uma escassez
de novos antibióticos em desenvolvimento para com-
bater os riscos da crescente resistência antimicrobiana.
De acordo com os investigadores do ProBioma, “só
oito dos 51 novos antibióticos e produtos biológicos
em desenvolvimento clínico para tratar microrganis-
mos patogénicos resistentes a antibióticos são trata-
mentos inovadores, adicionando valor à oferta actual
de medicamentos”. E uma boa parte dos fármacos
actuais apresenta apenas soluções imediatas, sendo
modificações das classes de antibióticos já existentes.
A Organização Mundial da Saúde tem chamado a
atenção para a emergência global de saúde que vai
comprometer seriamente o progresso da medicina
moderna: a resistência aos compostos antimicro-
bianos. É fundamental mais investimento na pes-
quisa e desenvolvimento de antibióticos capazes
de combater infecções resistentes a antibióticos.
Fazendo uma retrospectiva histórica, percebe-se
que a procura por antibióticos inovadores no sécu-
lo passado se concentrou inicialmente na produção
de compostos bioactivos por organismos do solo.
Mais tarde, o foco do desenvolvimento e investiga-
ção passou para o mundo marinho. Em pleno sécu-
lo XXI, porém, existe um nicho pouco explorado na
biosfera, com perspectivas promissoras para a in-
vestigação biomédica: os ambientes subterrâneos.
Segundo a equipa do ProBioma, grutas e minas
são um óptimo ambiente para a descoberta de no-
vas substâncias bioactivas. Ainda assim, a investi-
gação neste ramo não tem sido profunda, consta-
tando-se que o conhecimento sobre microbiologia
subterrânea em território nacional é limitado, ex-
ceptuando alguns estudos em grutas vulcânicas
dos Açores, uma realidade com condições distintas
das grutas do continente, graníticas ou calcárias.

dispositivo, que parece um “Y” amarelo em tama-
nho XL. É um amostrador de ar para amostras mi-
crobiológicas, que permitirá à equipa conhecer me-
lhor as dinâmicas de fluxos gasosos destas galerias.
A seu lado, um cabelo grisalho desponta do capuz
do fato biológico completo. Cesáreo Sáiz Jiménez,
coordenador do projecto no Instituto de Recursos
Naturais e Agrobiologia, fita a parede num local
aparentemente tão vazio como o resto da mina. No
entanto, olhando bem de perto e com luz rasante e
lateral, o motivo torna-se aparente: uma colónia de
organismos destaca-se do fundo escuro.
Uma pequena amostra é recolhida para um tubo
Eppendorf. Metros adiante, uma percussão seca e
sincopada ecoa no ambiente sinistro da cavidade.
Maria Clara Costa, da Universidade do Algarve, de


Em pleno século XXI, existe
um nicho pouco explorado
na biosfera, com perspectivas
muito promissoras: os
ambientes subterrâneos.

A investigadora
Valme Jurado
Lobo faz amostra-
gens de ar no
interior de uma
mina de pirites em
Lousal, que serão
mais tarde analisa-
das em laborató-
rio. Esta informa-
ção é fulcral para a
compreensão das
dinâmicas das
minas e das caracte-
rísticas biológicas
dos microrganis-
mos em estudo.
Free download pdf